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Com 95 anos, a famosa pastelaria Bijou fechou e já sabemos a razão

Apareceu na BBC e ganhou prémios, mas pode não reabrir. "Espero que não se transforme numa loja de souvenirs", diz o responsável.
Um dos espaços mais icónicos de Cascais.

Foi em 1979 que Pedro Canelas começou a trabalhar na pastelaria Bijou. Tinha apenas 15 anos e queria ajudar o pai com o negócio. Recorda-se de chegar cedo e, à porta, ver uma grande fila de clientes, o que o deixava entusiasmado. Ficava ao balcão, a atender os que por lá passava, e sempre teve um amor incondicional pelo espaço. 

Pedro dedicou 45 anos a esta casa, situada no centro de Cascais, mas a história da pastelaria começou, na realidade, meio século antes, em 1929. Desde dia 1 de janeiro de 2025, a caminhar para os 100 anos de existência, a Bijou fechou portas ao público e pode mesmo não voltar a abrir. A notícia apanhou os cascalenses de surpresa, já que há pouco tempo o espaço tinha investido em obras para expandir e remodelar o interior. 

“Fizemos um grande conjunto de obras e melhoramentos na altura da pandemia. Quem conhece bem o espaço sabe que era pequeno, tinha apenas 60 metros quadrados. A visita de milhares de pessoas por dia obrigou-nos a crescer. Comprei o edifício abandonado que estava ao lado, demolimos o prédio, construímos uma fábrica de produção maior e alargamos o espaço de atendimento para uma área de 400 metros. Foi com este novo local que reabrimos há dois anos”, começa por contar à New in Cascais, Pedro Canelas de 61 anos, atual proprietário.

Esta mudança, no fundo, foi o que levou ao encerramento da Bijou, já que Pedro não conseguiu licenciar o espaço. De momento, esta questão burocrática tornou-se na vontade de Pedro deixar o negócio.

“Tive uns problemas de saúde, nada de grave, mas a verdade é que não quero morrer agarrado aos bolos e às contas. Nos últimos anos passei por muito stress e ansiedade que me fizeram tomar esta posição. Decidi aguentar até ao final de 2024 e depois fazer um trespasse, afinal, este é o trabalho de uma vida, quero que continue nas mãos de outra pessoa e não acabe”, confessa o responsável.

“Porém, este problema de licenciamento impossibilita o trespasse. A conclusão é a seguinte, se a licença for aceite, existem já interessados em manter a Bijou, caso não seja possível licenciar, infelizmente a Bijou pode mesmo fechar de vez“, esclarece. 

O espaço renovado.

Para entender a importância desta pastelaria temos de olhar a história, com quase 100 anos, e recheada de mudanças. Tudo começou pelas mãos do “senhor Paulino”, como era conhecido, que aguentou a pastelaria até meados da década de 70, altura em que faleceu. Na época dividiu as quotas da empresa com os dois rapazes que lhe organizam a contabilidade, Carlos Bugalho e Santos Costa, como conta Pedro à NiC. Aceitaram ambos o desafio e mantiveram a essência da pastelaria.

Em 1979, Santos Costa abandona o projeto e vende a sua parte a Guilhermino Canelas, pai do atual proprietário. “Foi nesta altura que comecei a vir para a Bijou, para ajudar o meu pai com o negócio. Tenho cinco irmãos, mas sempre fui o mais apaixonado pelo sítio. Lembro-me que era algo com muito coração, um lugar de tradição, pioneiro e que tinha filas que nunca mais acabavam. O meu pai falece em 1985 e, nessa altura, assumo o negócio. Em 1988 compro as restantes quotas e fico com a Bijou só para mim”, relembra.

O espaço ficou famoso por vender doces típicos da zona e que conquistavam todos os que se atreviam a provar. Antes da gerência de Pedro, a moda estava centrada nas nozes e nas areias de Cascais e nas areias. Foram surgindo novas propostas e, mais tarde, surgiu um doce que se tornou na imagem de marca da Bijou, o jesuíta de amêndoa.

“Decidimos preparar uma receita diferente. O jesuíta normal leva açúcar por cima e depois é gratinado, ,mas o nosso não. Primeiro, é feita uma massa fina com milímetros, sendo coberta com amêndoas e não leva açúcar. Levamos ao forno a gratinar e o resultado é um bolo pouco doce e muito crocante. Fez tanto sucesso que veio cá a BBC fazer uma reportagem sobre ele. Inclusive o apresentador, Michel Portillo, veio cá provar o jesuíta para o introduzir no programa da Netflix ‘Long Weekends'”, acrescenta.

Além deste sucesso, em 2023, a pastelaria também venceu o concurso de Melhor Bolo-Rei de Cascais, como a NiC lhe contou neste artigo, provando a qualidade que estava diretamente ligada à Bijou. Com uma oferta variada, que incluía também menus de almoço e brunch, era um espaço em constante mudança, mas que nunca abdicou da sua história.

Era a qualidade, o produto, e o serviço que deram nome a esta casa. Tenho um grande investimento em café, torramos aqui o grão para ser servido de forma fresca, tudo isto aliado à história foi a receita do sucesso da Bijou. As pessoas sentem mais confiança num espaço com tantos anos”, conta Pedro, orgulhoso de ter mantido durante tanto tempo “a pastelaria mais antiga da vila” a funcionar e com qualidade reconhecida.

“Nestes últimos oito dias, tenho recebido muitas chamadas da Irlanda, Inglaterra e até da África do Sul a exigirem que não feche a pastelaria, mas a decisão está tomada. Só espero que, futuramente, este espaço icónico do concelho, não se transforme em mais uma loja de souvenirs”, conclui.

Agora, carregue na galeria para conhecer melhor e ver o aspeto da Bijou e de alguns dos bolos que lá eram fabricados.

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