Tudo começou com um noticiário televisivo, onde Cristina de Botton viu uma reportagem sobre a crise financeira e de como algumas mães estavam a deixar de comer para alimentar os filhos. Estávamos em 2011 e a arquiteta paisagista não conseguiu controlar as emoções. Sentiu que tinha de fazer algo para mudar esta realidade ou, pelo menos, tentar. Foi assim que nasceu a ideia do Cozinha com Alma.
Nesse mesmo ano, a arquiteta paisagista deslocou-se à Câmara Municipal de Cascais para apresentar o projeto, que tinha como principal objetivo servir refeições a quem não conseguia trazer comida para casa.
A iniciativa foi bem aceite e avançou. Em fevereiro de 2012, o projeto nasceu, oficialmente, em Cascais. “Inicialmente, batemos às portas dos restaurantes para pedir sobras, coisas com qualidade, e conseguimos sopas e acompanhamentos. Rapidamente entendemos que não podíamos continuar com este formato, não era apenas isso que queríamos dar às famílias”, conta Cristina, de 60 anos, à New in Cascais.
Com a motivação de manter a dignidade de quem precisa de ajuda, o chef Nuno Simões entra no projeto, pronto para cozinhar pratos com qualidade. No meio desta solidariedade conjunta, havia um problema: a forma de financiar o projeto.
Com vontade e espírito de iniciativa, a associação decidiu encontrar uma solução sustentável: criar ceias de Natal. Abriram encomendas de diferentes pratos, desde bacalhau a borrego, com um menu para todos os gostos. Com o dinheiro angariado, a associação conseguiu confeccionar as mesmas refeições para os mais carenciados. Esta iniciativa foi mantida até hoje. Atualmente, conseguem oferecer um Natal digno (e recheado) a 97 famílias que acolhem.
“Quando chegaram as primeiras famílias, apercebi-me que não faziam orçamentos, ou seja, não sabiam lidar com as contas de casa e as despesa. As famílias estavam em dificuldades e havia relações estruturais que tinham de ser resolvidas, as refeições não bastavam. Hoje temos refeições por um preço simbólico e um programa de acompanhamento, com mentores e assistentes sociais que acompanham as famílias”, acrescenta.
Quando uma nova família chega ao Cozinha com Alma é feita uma análise e definido um programa. O apoio oferecido pela associação dura dois anos e serve para as famílias encontrarem um equilíbrio financeiro. Quem recebe este apoio pode ir até duas vezes por semana à Comida com Alma receber refeições.
“No Natal as nossas famílias têm acesso às mesmas refeições que o comprador, são elas que escolhem, respeita-se a dignidade. Gostamos de os mimar e, por isso, temos uma árvore de Natal, com as 97 famílias acolhidas. Assim, quem lá vai pode escolher um cabaz ou algo do género para oferecer. É mágico ver a cara deles quando recebem isto, já que está fora do programa. Logo de seguida enviam postais de agradecimento e é impossível ficar indiferente às coisas que escrevem”, concluo Cristina.
Se quiser também ajudar, ao mesmo tempo que facilita a organização da ceia de Natal lá em casa, pode encomendar os pratos à Cozinha com Alma. As encomendas de Natal têm de ser feitas até dia 15 de dezembro, domingo, pelo site oficial da associação. Deverá encomendar, no mínimo, quatro doses, com pré-pagamento. Depois, terá de levantar a encomenda até dia 23 de dezembro, das 18 às 21 horas, ou a 24 de dezembro, das 10 às 14 horas.
Caso não queira sair de casa, pode pedir que lhe entreguem a refeição. O delivery está disponível dia 23 de dezembro, das 18 às 21 horas e 24 de dezembro, das 10 às 14 horas. Nas zonas de Cascais e Alcabideche (inclui Manique) paga 14€, na Parede, Carcavelos, S. Domingos de Rana, Estoril, Beloura, Linhó e Chão de Meninos, fica a 17€. Já Oeiras, Paço de Arcos e Caxias, o valor é de 22€, e Lisboa (inclui Miraflores e Algés) a 28€.
Neste momento, a Cozinha com Alma conta com 38 cozinheiros, 70 voluntários e serve mais de 1700 doses de comida durante a época natalícia.