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Mauro Álison adorava cozinhar para os amigos. Agora, é o novo chef d’A Pastorinha

À frente da cozinha do icónico restaurante da Praia de Carcavelos, confessa à NiC qual é o prato que todos devem experimentar.
DR: Edições do Gosto.

Mauro Álison é hoje um chef reconhecido e, desde jovem, que o caminho parecia traçado. Nos convívios com amigos era sempre ele o responsável por tratar das refeições, ainda longe de pensar que um dia seria essa a sua profissão. Bastava haver um churrasco, por exemplo, que mais ninguém se podia aproximar da grelha. Era assim em diferentes situações — até naquelas em que não convinha, como a Passagem de Ano de 2001.

“Estava na casa de um amigo meu, na Moita, tinha apenas 15 anos. Bebemos um bocado e, como é normal, ficámos com fome. Era o único que sabia cozinhar, por isso achei boa ideia fazer um arroz numa forma para pudins. Quando ficou pronto e provámos tive uma surpresa: a comida não estava nada boa. Queriam gozar comigo, a dizer que não sabia fazer arroz, mas depois revelaram que misturaram vodka de morango na água de cozedura do arroz”, conta Mauro à New in Cascais.

Nessa altura, os sonhos profissionais estavam definidos. Queria ser jogador de basquetebol na NBA, liga profissional da América do Norte. Jogou no Pinhal Novense e no Scalipus, mas não conseguiu seguir carreira. Depois, nasceu outra ambição: a psicologia criminal. Entrou no Instituto Universitário Egas Moniz, em Almada, mas acabou por não concluir o curso, com três cadeiras em falta.

No entanto, ao longo do percurso, havia sempre algo que não falhava: o jeito para a cozinha. “Lembro-me de ter sempre uma ligação com o mundo gastronómico. Nunca foi o meu sonho, era apenas algo que gostava de fazer e tinha interesse. Tenho memórias de a minha avó ensinar-me a cozinhar quando tinha sete anos. Hoje sei que não estava a fazer nada, só estava a aquecer um hambúrguer que já estava feito, mas foram estas pequenas coisas que me fizeram ter curiosidade pelo mundo da comida” revela.

Com 12 anos, saía da escola para ir almoçar a casa, por não querer comer as refeições da cantina. Preferia perder algum tempo e fazer um bife com batatas fritas, coisas simples, mas incomuns naquela idade. Não perguntava como se fazia, em vez disso observava a mãe e depois experimentava sozinho, provando diferentes temperos.

Mauro só começa a trabalhar profissionalmente na área gastronómica aos 29 anos. O primeiro emprego foi na Portugália do Montijo. “Estava atrás do balcão do Moments Cocktail Lounge, um bar que fechou em 2015. Na época trabalhava com um amigo chamado Miguel Ferreira. Ele foi para a Portugália e, um dia, ligou-me a dizer que tinha aberto uma vaga na cozinha. Fiquei indeciso, mas acabei por abraçar a oportunidade”, esclarece.

Gostou, dedicou-se e mostrou talento. Os outros notaram a vontade e a energia na cozinha. Era certo que aquele era o seu lugar, desde sempre. Em 2017 decidiu tirar um curso na Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal (ACPP). A partir desse momento, começou a trabalhar em cozinhas de renome.

Esteve no Bastardo, na Rua Augusta em Lisboa, no Aqua Luso, em Troia, no Sushi in The Box, no Parque das Nações e no 44 em Vilamoura. “Antes não era levado a sério na cozinha porque não tinha formação. Em 2009, procurei trabalho no Pestana Palace através de um amigo. Liguei e ele disse ser demasiado puxado para mim. Em 2018, voltei a enviar mensagem e ele só me perguntou quando queria começar. Eu disse que queria já no dia seguinte e assim foi”, relembra.

Depois deste episódio, o jovem chef saiu para se dedicar à abertura do Clube Lisboeta no Príncipe Real. Depois disso, foi para Montargil, trabalhar na cozinha do Hotel NAU. Por fim, acabou por voltar ao distrito de Setúbal, para comandar a cozinha do Hotel Casa Palmela.

Com percurso interessante neste ramo, Mauro Álison, hoje com 38 anos, é o novo chef do famoso restaurante A Pastorinha. Situado na Praia de Carcavelos desde 1983, o espaço é um dos maiores clássicos da Avenida Marginal. Com mais de quatro décadas de história, Mauro agarrou a oportunidade de forma a elevar os sabores que já existiam no menu. 

Desde maio de 2024, que pode provar os pratos d’A Pastorinha com twists do chef. “As receitas continuam a ser as mesmas. Obviamente que fiz algumas alterações nos molhos e tentei melhorar alguns métodos utilizados na cozinha com o que fui aprendendo ao longo dos últimos anos. No entanto, até ao momento ainda não há nenhum prato de assinatura”, acrescenta.

Veio para A Pastorinha depois de uma amiga, que trabalha Grupo Sana, ter-lhe lançado o desafio para se candidatar a este posto. Após várias entrevistas, Mauro foi chamado para o cargo, que aceitou por se sentir atraído pelos desafios que o espaço impõe. 

Sonha, um dia, poder introduzir um prato que adora fazer — salmonete servido com puré de nabo e hortelã. Enquanto a iguaria não aparece não é acrescentada à carta habitual, Mauro aconselha os clientes a pedir o famoso arroz de marisco, um prato que considera aromático e suave.

Neste momento, o chef natural da Moita, faz parte da confraria “Chaîne des Rôtisseurs”, uma das mais antigas do mundo. É também professor na Escola de Hotelaria de Setúbal e, desde 2021, é jurado do concurso Jovem Talento da Gastronomia.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Avenida Marginal, Praia de Carcavelos
    2775-604 Carcavelos
  • HORÁRIO
  • De segunda-feira a sábado, das 12h às 0h
  • Domingos, das 12h às 17h
PREÇO MÉDIO
Entre 30€ e 50€
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

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