O Artsy Cascais foi inaugurado em maio de 2023 com um conceito que passa por unir história e arte. O boutique hotel de cinco estrelas instalou-se num palacete do século XIX, juntou-lhe uma ala moderna, uma piscina no rooftop e uma instalação artística de Vhils na fachada — ou não estivesse situado em pleno Bairro dos Museus, em frente à Cidadela e a dois passos da Baía. O hotel, que combina o antigo e o moderno, nasceu de um cruzamento de inspirações e memórias, conceitos que também guiam a cozinha do Art Restaurant.
Se há hóspedes que escolhem o hotel pela localização e pelo conforto, muitos regressam pela gastronomia, que também atrai foodies locais, curiosos para experimentar as invenções do chef David Casaca. O restaurante situa-se no piso térreo, logo à esquerda da entrada principal. Numa sala moderna, com vista para o Largo da Assunção, somos surpreendidos pela possibilidade de nos podermos sentar ao balcão, enquanto vemos o chef a trabalhar.
A condizer com as obras que decoram as paredes do hotel, e a fazer jus ao próprio nome, ali faz-se arte no prato. Vemos a azáfama da cozinha e acompanhamos atentamente os empratamentos que se fazem à vista dos clientes. Entre um e outro copo de vinho (numa lista escolhida ao pormenor para que o paring com os pratos seja perfeito), fomos provando as iguarias do Menu Experience (90€ por pessoa) e conversando com o chef ao mesmo tempo.
Nesta opção são servidos seis pratos surpresa. O cliente aceita ir à descoberta, sem saber o que vai provar. “Começamos por conversar com o cliente para saber coisas que não goste, alergias, e vamos percebendo o que terá mais interesse. Montamos um menu para a pessoa de forma a surpreender. Quem vem mais do que uma vez, vai sempre provar coisas diferentes”, conta o chef à NiC.
A simpatia de David Casaca é um dos ingredientes especiais das refeições ali servidas. À medida que vai compondo os pratos, explica-nos ao pormenor as inspirações por detrás de cada escolha. A ligação ao mar é inegável, com peixe fresco a chegar da lota todos os dias. O chef aposta muito em produtos sazonais e, dentro da cozinha, o foco é a sustentabilidade.
Nas entradas servidas, por exemplo, há uma manteiga feita com pó de cebola, criado a partir do desperdício das cascas. A reutilização das matérias-primas no seu todo é uma das prioridades do restaurante. Muito elogiado é também o pão que chega quente à mesa, de massa mãe, muitas vezes feito à frente dos clientes.
No entanto, o maior trunfo do chef é “ir buscar as tradições e virá-las do avesso”. Um desses exemplos é a bola de Berlim que nos foi apresentada num almoço Experience. “Fizemos a nossa versão de bola de Berlim salgada, com camarão, molho béarnaise, lima e cebolinho. Acrescentámos um açúcar feito com as cascas do camarão. A bola começou com lavagante na passagem de ano, mas depois mudámos para camarão e ficou muito melhor”, conta David.
“Gosto de transformar os pratos em algo que as pessoas não estão à espera, ir buscar coisas típicas e dar-lhes um twist”, refere. “Ao inicio fomos buscar pratos típicos de várias zonas, mas percebemos que as pessoas vinham cá mais pelo que estávamos a fazer de diferente, com produtos daqui. Então, inspirei-me na região para criar novos sabores”.
Continuamos a provar os pratos escolhidos pelo chef para nos servir no Menu Experience. Segue-se uma opção vegetariana, com kohlrabi, cenouras e alho francês. Depois, um peixe do dia (pargo, neste caso), acompanhado por xerém. Segue-se o prato de carne, uma presa de porco Laborela, com chouriço de sangue e feijão branco. Para terminar, as famosas nozes de Cascais, acompanhadas por vinho de Carcavelos Villa Oeiras.
David assume que o conceito do espaço passa hoje pela partilha, numa refeição aberta e flexível para não ter de seguir um curso tradicional. “Não damos rótulos aos pratos. Os clientes podem pedir primeiro uma sobremesa, depois o peixe e as entradas no final. É como quiserem”, conta David. Pode conhecer todas as opções do menu regular no site do restaurante.
O melhor feedback que pode ter dos clientes do Art Restaurant? “Num ano de casa aberta, nunca veio um prato para trás”, diz, com orgulho.
Aos 31 anos, David Casaca tem já um vasto currículo no mundo da gastronomia. Formou-se na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa e, logo aos 18 anos, começou a trabalhar na Bica do Sapato. Passou por outros restaurantes como o Rota das Sedas, o Tágide, o Drogaria, “um espaço pequeno que conseguimos elevar ao nível Michelin”, e também pelo Ritz Four Seasons Lisboa.
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