Diogo Ferreira sempre gostou de acrescentar molhos picantes aos pratos que consumia, mas nenhuma das opções de supermercado o conquistavam por completo. Decidiu explorar este mundo e, depois de alguma pesquisa e com um caráter autodidata, aventurou-se a criar o seu primeiro molho spicy. Porém, esqueceu-se do detalhe mais importante — o picante caseiro fermenta e cria gás.
“Era a minha primeira invenção e, mesmo não estando ainda do meu agrado, fiquei bastante orgulhoso com o resultado. Guardei num frasco e continuei a fazer mais experiências. Passados três meses, decidi voltar a experimentar o meu protótipo. Durante aquele tempo, o molho esteve a criar gás e quando abri a tampa foi uma explosão. Estava tudo laranja, parecia que estava a chover em casa, já que era só molho a pingar do teto”, começa por contar à New in Cascais.
Agora, com 45 anos, já tem alguma mestria a manipular as malaguetas. Cultiva as próprias plantas e criou uma gama com 18 molhos picantes, todos diferentes. São eles que compõem a gama da marca Hot Cave Sauces, criada por Diogo em 2022. Alguns são feitos com fruta, outros com tinta de choco e todos têm um detalhe em comum: são produzidos de forma natural e sem conservantes ou intensificadores de sabor.
O gosto por este tipo de tempero, fê-lo começar a testar sabores em casa. Fazia os clássicos líquidos com azeite ou óleo, misturados com algumas malaguetas picantes. No entanto, confessa que sentia falta de um gosto mais apimentado e menos gorduroso, mas foi assim que se tornou um especialista na área.
“Ao contrário do que é dito, o picante das malaguetas não está nas sementes. A sensação de ardor é criada na placenta da malagueta, em forma de óleo, que depois se pode colar às sementes, mas não em todos os casos. O truque é morder apenas a ponta e entender os aromas da pimenta. Obviamente, fui muitas vezes ao leite e é preciso ter muito cuidado com algumas espécies. Por exemplo, a Carolina Reaper, a malagueta mais forte do mundo e que comercializamos, pode ter um efeito de dor que pode durar até quatro horas, não é uma brincadeira”, avisa.
Na busca por criar o picante perfeito, Diogo decidiu criar um pequeno laboratório caseiro. Ao estilo de Walter White, personagem da famosa série “Breaking Bad”, Diogo começou a juntar Vinho do Porto, ervas aromáticas e até canela. Queria criar resultados exóticas, diferentes e que combinassem com diferentes tipos de comida, inclusive sobremesas.
O especialista conta à NiC que os molhos picantes são feitos de forma idêntica à cerveja. Adiciona água, os aromas, que podem contar com fruta e legumes, e depois deixa fermentar durante três a quatro meses. Apesar de ter muita variedade, admite que alguns dos molhos possam vir a tornar-se sazonais.

A aposta de Diogo nesta área torna-se mais interessante depois de saber que a área profissional do cascalense — nasceu em Lisboa, mas vive em Cascais desde os cinco anos — passa longe da cozinha. Licenciou-se em Engenharia Informática na Universidade Nova de Lisboa, em 2004. Desde então, nunca mais largou o ramo e ainda hoje trabalha nesta área, no departamento de Marketing de uma empresa farmacêutica.
Paralelamente à carreira formada, decidiu elevar o gosto por picantes a outro patamar. Em 2022, depois de criar seis molhos diferentes que considerou terem bastante qualidade, criou oficialmente a marca Hot Cave Sauces.
A imagem tem por base um homem das cavernas a segurar uma malagueta gigante, como se fosse a sua arma. O nome vem da alcunha de infância de Diogo. Tinha um cabelo encaracolado enorme, parecido com o de Slash, icónico guitarrista dos Guns & Roses e, por isso, chamavam-no “cave man” (homem das cavernas), que depois passou apenas para “cave”.
À New in Cascais, explica a aposta neste segmento de produto. “O português também é conhecido por meter picante na comida, não são só os mexicanos. Quando vamos a uma churrasqueira, quem está atrás do balcão pergunta se o cliente quer meio frango ou um inteiro e, logo a seguir, questiona se é com ou sem picante. Isto quer dizer alguma coisa. Pratos como açordas e feijoadas levam sempre uma malagueta para dar gosto, faz parte da nossa cultura“, explica.
O objetivo agora é fazer crescer a marca. “Em vez de comercializar nas grandes superfícies, preferi difundir o produto pelos restaurantes de Cascais e criar a minha loja online, para que todos os entusiastas vejam, com calma, qual será o molho mais indicado para eles. Como não têm aditivos, os picantes não são agressivos para o estômago e o facto de passarem por um período de fermentação, dá-lhes, de forma natural, um tempo de validade de dois anos”, afirma.
No site da Hot Cave Sauces vai encontrar todas as propostas, divididos por diferentes gamas: “Personagens”, que são feitos com legumes e vegetais, “Máfia”, feitos com frutas e os “Desajustados”, que não se inserem nas categorias anteriores. Existem apenas dois tamanhos, o de 50 ml e o de 150 ml. Os preços podem ir dos 6,59€ aos 13€.
“A razão de se gostar de picante é que, assim que uma pessoa começa a sentir o calor intenso e a dor, que se segue à primeira dentada numa malagueta, o cérebro liberta endorfinas para ajudar a bloquear a dor e também dopamina, a precursora natural da adrenalina, que despoleta um sentimento de euforia”, conta.
Na loja online também pode encontrar sementes de várias malaguetas, inclusive algumas das mais fortes do mundo. Apesar de todos os molhos terem a sua importância, a versão “Seja o que Deus quiser” é a grande estrela da marca. Além de ser o picante mais forte, é feito com malaguetas aleatórias, ou seja, nunca vai saber o que o espera.
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