Existem tradições que fazem parte do ADN de quem cresceu ou vive na Linha de Cascais e uma delas é, sem dúvida, as visitas ao Santini. Seja na histórica loja da Avenida Valbom, em Cascais, no recente espaço da Baía, na finada loja de São João do Estoril ou no concorrido espaço de Carcavelos, a marca faz parte da vida dos cascalenses (e dos portugueses, no geral) há 75 anos.
Para celebrar, foi criado um novo sabor de gelado, que fica disponível a partir desta sexta-feira, 10 de maio. A New in Cascais provou-o, em primeira mão (vivemos o sonho de passar uma manhã dentro da fábrica da Santini), e podemos garantir que vale a pena fazer fila para experimentar.
Depois de pedir sugestões, através das redes sociais, aos melhores especialistas em sabores Santini — os clientes —, foram quase 600 as propostas (algumas pouco exequíveis) que a marca recebeu, até chegar às três finalistas, e por último, ao grande vencedor. Marabunta de Morango é, assim, o sabor comemorativo desta importante data. À tradicional marabunta (fusão entre um simples gelado de nata e pepitas de chocolate), junta-se o fresco sabor do morango, um dos frutos da época e muito representativo da marca.
“A marabunta, por exemplo, existe desde a primeira loja. Pareceu-nos uma ótima ideia, misturar dois sabores que as pessoas identificam muito como sabores Santini, e torná-los no grande sabor dos 75 anos.”, comenta Eduardo Santini, neto de Attilio Santini, que era já ele próprio o terceiro de uma geração de italianos dedicados ao fabrico de gelados, até abrir o seu próprio espaço em Portugal, no Tamariz, em 1949.
Quisemos saber qual o sabor favorito do atual responsável pela marca e a resposta é surpreendente: “Limão. Sendo um sabor simples, feito com um ingrediente barato, é difícil de replicar se não for feito com fruta natural. Sempre que visito uma nova gelataria, peço limão e é aí que faço a distinção da qualidade, porque se não for realmente feito com fruta, os outros sabores também não vão ser”.
Chocolate e frutas como pêssego ou tangerina, estão também entre as preferências de Eduardo Santini, que tem na criação de novos sabores um dos desafios favoritas. “Dou muito trabalho à produção”, brinca. É difícil encontrar algum ingrediente ou alimento que nunca tenha sido usado pela marca. Ao longo de 75 anos, já foram criados mais de 500 sabores, entre os de fruta, os sazonais, os limitados e as criações inusitadas que não correram assim tão bem.
Pimentão doce, é um desses exemplos, assim como ostra. “Este último é estanho, mas come-se, já o de pimentão doce não. Um cliente que era fabricante de pimentão doce ofereceu-nos uma série de latas e desafiou-nos a fazer este sabor, mas ficou uma coisa muito esquisita. Já experimentámos um pouco de tudo, fazemos muitas experiências, umas correm melhor, outras pior. É engraçado ir testando e baralhando os sentidos, principalmente quando estamos acostumados a determinados sabores e texturas como, por exemplo, criar gelado de pipoca ou tremoço”, conta à NiC, Eduardo Santini.
Também cerveja, tinta de choco ou gorgonzola com nozes fazem parte da lista, assim como várias estrelas da pastelaria portuguesa que resultaram em edições limitadas de sucesso, como bola de Berlim, pastel de nata ou bolo-rei. Porém, são os sabores de fruta que conquistam a maioria dos clientes.
O morango é um clássico que nunca falha e que resulta, durante os meses de verão, num casamento perfeito com a meloa (experimente e vai ver que fica com o sabor na boca, durante horas, mesmo como se tivesse comida a fruta). Também o coco, o abacaxi, a manga ou a framboesa fazem sucesso entre os mais pedidos.
Com 75 anos de vida, a marca orgulha-se de acompanhar diferentes gerações, fazendo parte de momentos de convívio, diversão e partilha, entre família e amigos. Na verdade, ao longo destas décadas, a Santini tornou-se mesmo uma love brand, com clientes fiéis que, com ela, mantêm uma relação emocional, precisamente pela presença constante em ocasiões especiais. “Mais do que ser a nossa marca, as pessoas sentem que também faz parte da vida delas”, aponta Eduardo Santini.
“Chegar aos 75 anos é uma responsabilidade acrescida, ainda por cima sou a terceira geração ligada ao negócio, que é aquela que costuma dar cabo de tudo. Sempre tive esse peso, mas acho que as coisas até estão a correr bem”, brinca o responsável. “A nossa preocupação é manter tudo como estava, o receituário e o mesmo tipo de atendimento. A única diferença em relação a 1949, é que temos mais algumas lojas e fazemos uma maior quantidade de gelado. De resto, é pensar como é que o meu avô gostaria que as coisas tivessem e seguir sempre esse caminho“, sublinha.
O sucesso é tanto, que acreditamos que devia haver até um verbo específico para o ato de visitar a gelataria, já que o convite nunca se faz com “Queres ir comer um gelado?”, mas sim “Vamos comer um Santini?”. “É bom sinal que as pessoas continuem a apreciar os nossos gelados e se identifiquem com a marca. Há pessoas que os provaram nos primeiros anos e garantem que ainda hoje têm o mesmo sabor e é um orgulho saber isso”, continua Eduardo.
Foi no final de abril, que visitámos a fábrica da Santini para acompanhar todo o processo de produção do novo sabor. O único problema: agora queremos morar dentro dela. É ali que são produzidos todos os sabores de gelado, para serem depois distribuídos pelas 12 lojas da marca, espalhadas pelo País, desde Cascais a Oeiras, passando por Lisboa e chegando até ao Porto.
A visita à fábrica em Carcavelos
As toneladas de gelado, produzidas diariamente na fábrica, continuam, ainda hoje, a nascer de um processo de produção artesanal. Na verdade, ficámos surpreendidos por ver que, mesmo com alguns processos mais mecanizados, muitas das etapas são ainda realizadas artesanalmente por colaboradores e especialistas, que se dedicam a garantir que a qualidade das partes é o que vai garantir o sucesso do todo, no resultado final.
Começámos por ver chegar, na parte traseira do edifício em Carcavelos, um novo carregamento de morangos, meloas e mangas. “Todos os dias recebemos fruta fresca. No verão, por exemplo, recebemos quase duas toneladas de morangos por semana”, refere Ana Serra, responsável de marketing da Santini.
O aroma inebriante da fruta sente-se à distância e prepara-nos para o que aí vem. Para garantir a qualidade da matéria-prima, já que a marca utiliza apenas fruta e ingredientes naturais, “sem polpas, nem congelados, sem produtos artificiais, como corantes, conservantes ou espessantes”, há que avaliar e selecionar toda a fruta que chega, assim como testar os graus de açúcar, para poder ajustar a receita.
“Como produção artesanal que é, tem que responder a alguns parâmetros a nível de qualidade, sabor e açúcar”, aponta Ana. “O nosso gelado não é sempre igual, porque trabalhamos com morangos frescos, e os de março não são iguais aos morangos de junho, por exemplo, uns são mais doces, outros menos, o grau de maturação da fruta é diferente”, refere. Neste processo, aprendemos, por exemplo, que nem sempre os morangos mais vermelhos são necessariamente os mais doces.
Devidamente equipados com toucas, batas e capas de sapatos, seguimos para a segunda fase, a de lavagem da fruta, através de uma máquina onde ficam na água durante cerca de cinco minutos para retirar todas as impurezas. Na mesma sala, frutas como meloas e mangas são descascadas e cortadas pelos colaboradores, à mão. Já os morangos seguem para outra máquina, onde serão espremidos, separando a polpa da fruta da rama verde.
No entanto, desta vez, seguimos o carregamento da fruta inteira para a sala seguinte, onde cada morango será mergulhado em chocolate e levado a congelar. Depois, já solidificado, será cortado em pequenos pedaços. Um processo que é feito à mão, um a um, para garantir que o resultado é exatamente o pretendido. Aproveitámos para provar um destes morangos banhados em chocolate e a nossa vontade era trazer uma caixa recheada para casa. Os pedaços mantêm-se refrigerados até à etapa seguinte.
De seguida, passámos para a zona onde são produzidos, efetivamente, os gelados. As polpas das frutas, acabadas de fazer, são colocadas nas misturadoras, durante alguns minutos. Quando chegámos, conseguimos provar dois sabores acabadinhos de sair das máquinas, manga e moka. Curiosamente, a textura imediata é bem diferente daquela que depois será consumida em loja, já mais sólida. O de manga, naquele momento, era praticamente uma mousse fresca, cremosa e suave.
Noutra máquina, faz-se a base de nata, contando os minutos, entre oito a dez, sempre com um técnico atento, para não passar do ponto (pelo perigo de se tornar manteiga). Assim que fica pronta, juntam-se os pedaços de morango com chocolate. O resultado é o novo sabor, marabunta de morango, super saboroso, e que vai certamente agradar a todos os tipos de gosto. Terá de prová-lo, nem que seja para poder dizer, mais tarde, que sentiu o sabor dos 75 anos da marca.
Da fábrica, viaja depois até às lojas, onde diariamente encontra cerca de 15 sabores diferentes para provar. Os preços são idênticos em todas os espaços: um copo ou cone pequeno (até 2 sabores) por 3,90€, um copo ou cone médio (até 3 sabores) por 5,40€ e um copo grande (até 4 sabores) por 6,90€. Pode também comprar o boião de gelado por 4,90€ ou um picolini por 3€. Têm ainda a possibilidade de comprar as caixas take-away, com meio litro por 16,50€ ou um litro por 29,20€.
Além do novo sabor, a marca lançou recentemente uma coleção especial de copos de gelado, também comemorativa dos 75 anos, em parceria com a Bordallo Pinheiro. Quanto à estratégia de expansão, a Santini acredita que, em breve, terá de aumentar o espaço de fábrica, que começa já a ser pequena para o volume de produção, com todas as lojas próprias, os pontos de venda, restaurantes e supermercados. Além disso, terá novas aberturas em 2024: este mês será inaugurado um novo quiosque Santini no CascaiShopping (e outro espaço ainda por divulgar).
Visite também a fábrica da Santini, através das imagens na galeria, em baixo.