Catarina Marques tinha apenas seis anos quando aprendeu a fazer croché. Começou influenciada pela mãe e pelas vizinhas E nunca mais largou os fios e as agulhas. Como cresceu numa aldeia antiga e isolada na Guarda, as artes manuais foram a forma que encontrou para passar o tempo livre.
“Ainda não existia Internet para pesquisar sobre o assunto, então aprendia tudo com as pessoas à minha volta”, começa por contar. “Quando começou a febre dos vídeos no YouTube, comecei a ver dezenas de outros artistas que me influenciaram a continuar.” Apesar da paixão pela técnica, a ideia nunca foi tornar o hobby num negócio. A criativa de 28 anos acabou se dedicar à costura e começou a trabalhar como modelista e designer têxtil.
A oportunidade de partilhar o seu talento com tecidos nas redes sociais surgiu mais tarde. Atualmente, a artista alia a paixão pelo croché à literatura. Cate & Ginger, como é conhecida online (em homenagem à coelha que sempre quis e nunca teve), transforma as imagens das capas dos livros em tote bags, malas, porta-moedas e capas para e-readers, por exemplo, tudo feito com esta técnica artesanal.
A ideia surgiu de forma espontânea. “Fiz uma carteira para uma amiga que tinha bastantes seguidores. Quando partilhou, nas redes sociais, uma fotografia com a peça, recebeu uma mensagem de uma rapariga norte-americana que queria saber onde comprar. Veio falar comigo e aceitei fazer uma para vender”, recorda.
Um dia, enquanto tricotava, percebeu que os tons de verde e rosa das linhas eram idênticas às da capa do livro que andava a ler. Na mesa de cabeceira, tinha o romance young adult “Yerba Buena”, da autora norte-americana Nina LaCour. “Será que podia fazer sacos assim?”, questionou-se. Porém, foi o namorado que a incentivou a avançar com a ideia.
O primeiro que fez, em junho de 2023, apresentava um desenho abstrato. Começou a explorar formas e detalhes mais realistas quando passou a aceitar pedidos customizados, em outubro.
“São livros importantes para as pessoas”
“Uso uma técnica chamada croché de tapeçaria [envolve vários fios de lã e cores alternadas] e depois juntei o bordado. Como no início estava muito condicionada pelo número de pontos, fui adicionando detalhes por cima destes, detalhes para conseguir ter mais cores e desenhos mais específicos”, explica.
De “Misery”, de Stephen King, a “Magnolia Parks”, de Jessa Hastings, o seu portefólio inclui clássicos, livros de nicho ou publicações contemporâneas. Quando se tratam de modelos personalizados, faz sempre dois ou três desenhos com as suas ideias e o cliente escolhe o seu favorito.
“Já me mostraram capas muito detalhadas, mas não consigo dizer que não. Tem sido giro porque há muitas obras nas quais não iria pegar por iniciativa própria”, diz. “Acabo por ter uma variedade muito grande e percebo que são livros importantes para as pessoas.”
Um dos projetos mais desafiantes foi uma edição especial em inglês de “O Senhor dos Anéis”, que já era uma pintura. A encomenda veio de uma pessoa que queria oferecer a bolsa como presente. “Quando tens uma obra de arte à tua frente, é difícil expressar aquilo. Quando é menos bonita, é mais simples fazer algo artístico.”
Em média, Cate demora cerca de oito horas a terminar cada acessório. Após o “processo lento” do croché — devido às linhas finas e aos pontos mais pequenos —, é preciso colocar o forro para tornar os sacos mais resistentes e práticos.
No primeiro trimestre do ano, a artista prevê ainda o lançamento da primeira peça de roupa, uma sweatshirt que vai complementar o resto da oferta. Trata-se de uma peça que a jovem já queria para si e que, claro, está ligada ao universo literário. Nas costas, vai estar bordada a expressão “book cover critic” (“crítico de capas de livros”, em português).
Se a sabedoria popular afirma que não se deve julgar um livro pela capa, Cate rejeita essa premissa todos os dias através do seu trabalho. “Para mim, as capas dos livros são tão importantes como o interior. Afinal, são duas formas de arte juntas”, conclui.
Os acessórios Cate & Ginger estão à venda online e os preços variam entre os 18€, no caso dos porta-moedas, e os 55€, se for uma capa para e-reader de tamanho XXL.
Carregue na galeria para ver alguns dos sacos criados pela artista.