Dezenas de pessoas que saíram à rua esta quarta-feira, 24 de janeiro, cruzaram-se com cartazes publicitários que não conseguiram ignorar. Aos poucos, as redes sociais encheram-se de fotografias da publicidade a uma simples estante branca com o texto “Boa para guardar livros. Ou 75.800€.” E os mais atentos não deixaram escapar a referência.
Os mupis colocados pela IKEA surgem em alusão ao valor que as autoridades encontraram durante as buscas ao gabinete de Vitor Escária, chefe de gabinete do Primeiro-Ministro António Costa, em novembro. O dinheiro estava guardado em vários envelopes, livros e até caixas de vinho.
António Costa revelou desconhecer que o antigo assessor de Sócrates guardava a quantia na residência oficial, em São Bento, Lisboa. Porém, a procura levou à sua demissão e à eventual queda do governo.
A arrojada campanha da marca sueca do mobiliário está a dividir opiniões. Uns criticam o posicionamento político, outros aplaudem a criatividade da equipa responsável pelo marketing nas redes sociais.
“É cada vez mais difícil para as marcas arriscarem muito na forma como comunicam: o moralismo vigente, o medo de serem canceladas ou de gerarem mensagens de ódio nas redes, faz com que, na prática, seja muito difícil nos lembrarmos de uma campanha de jeito”, escreveu o humorista Fernando Alvim.
Contactada por vários meios de comunicação, a marca já reagiu ao burburinho gerado pelos anúncios. Em comunicado, a IKEA afirma que “que faz parte do dia a dia dos portugueses há 20 anos” e que pretende “desenvolver campanhas que reflitam a realidade”.
As referências ao atual cenário político do país estendem-se a outros cartazes espalhados pela cidade, que abordam temas como a inflação ou a geringonça, por exemplo. “Puxamos o tapete à inflação” ou “A nossa geringonça contra o frio” pode ler-se no anúncio a uma carpete e a cobertores.
“Olhamos para as nossas campanhas, e para nós próprios, com sentido de humor, e muitas vezes como forma de aliviar a tensão de um mundo com os nervos cada vez mais à flor da pele”, conclui a empresa, reforçando que não existe “qualquer intenção ou propósito de contribuir, seja de que forma for, para o debate partidário e para o atual contexto pré-eleitoral”.
O resto da campanha, mandaram-me agora, tem também uma toada política. pic.twitter.com/k5VdP2RdMf
— Mafalda Anjos (@manjos) January 24, 2024