Diana Cidade Lemos nasceu na Serra da Estrela e, ao crescer, passava os dias num sítio tão remoto que as ruas não têm nome. Sempre que podia, escapava da aldeia e deambulava pelo parque natural da região. No verão, há lagoas naturais e campos floridos para descobrir e, no inverno, torna-se num paraíso branco coberto de neve.
“Sinto uma ligação muito forte às montanhas. Conheço todos os cantos daquela zona, identifico-me com as pessoas e tenho uma relação intrínseca com os costumes dali”, conta. A jovem de 25 anos tem tanto orgulho nas suas raízes que quando se mudou para Lisboa, em 2016, todos sabiam de onde vinha. “Digo que sou uma embaixadora da Serra da Estrela”, acrescenta. O título não é oficial, mas Diana encara-o com seriedade. Para isso, começou a pensar em formas de homenagear o legado intemporal da região, chamando à atenção para os costumes com os quais cresceu.
A missão da Bordaleiras, a marca que lançou em novembro de 2023, é aliar as pantufas tão icónicas da zona “a um estilo de vida mais sofisticado”. Com origem nas montanhas da Serra da Estrela, as chamadas serranas são feitas artesanalmente, 100 por cento em pele de ovelha e com uma sola confortável. “Com a aposta tão frequente em materiais sintéticos, quis contrariar a tendência e preservar algo que é tão simbólico da região onde cresci”, frisa.
Sem qualquer ligação à moda — Diana é formada em gestão —, quando decidiu avançar com o projeto iniciou uma busca pela pessoa mais indicada para a ajudar. Após falar com câmaras municipais e pontos de turismo, encontrou o atelier de um senhor com o savoir faire que procurava. “Atualmente, não consigo trabalhar apenas com peles da ovelha bordaleira, que dá nome à marca. Quero fazê-lo, mas ele ainda não consegue garantir-me que toda a matéria-prima vem das raças autóctones da Serra”, explica.
Já o desejo de modernizar o design clássico surgiu por influência da mãe. Elegante e sofisticada, a mulher de 50 anos é a única na família de Diana que não usa as pantufas clássicas da região. “A pensar nela, tive a ideia de desenhar uns chinelos debruados com pelo de qualidade. Quando os experimentou adorou e até ofereceu o mesmo modelo a várias amigas.”
Sobre a utilização de peles animais, que ainda divide opiniões, explica: “A matéria-prima que utilizamos vem do reaproveitamento do pelo de ovelhas responsáveis pelo fornecimento de leite e lã. Nenhuma é sacrificada para este fim, apenas aproveitamos o que sobra da indústria alimentar.”
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Mais do que uma loja online, Diana quer transformar a Bordaleiras numa plataforma de divulgação da região. Do queijo da Serra aos cobertores de papa, que estão em extinção, um dos objetivos é valorizar “os produtos de qualidade” que ali nascem — e ensinar outros a fazerem o mesmo.
Embora tenha começado pelos chinelos, a ideia é alargar a oferta às botas e ao modelo mais tradicional em fevereiro. Porém, sempre com um toque contemporâneo e elegante que tem chamado à atenção um pouco por todo o País, incluindo de Madalena Abecasis, que já partilhou uma fotografia com um dos modelos.
“A ideia é ser uma loja online, mas gostava que estivessem disponíveis espaços físicos com outros produtos regionais. Ainda tenho que fazer estes contactos e avaliar os sítios onde pode fazer sentido estar presente”, conclui. “E, no futuro, quero começar a vender em países onde há comunidades portuguesas.”
As pantufas da Bordaleiras custam 86€ no site da marca. Carregue na galeria para conhecer os modelos.