Durante a adolescência, Leonor Gonçalves não permitia que nenhum par de sapatilhas ficasse intacto. Enquanto a maioria dos colegas os gostavam de manter como novos, a jovem “era aquela pessoa que escrevia [nos modelos], gostava de os customizar e estava sempre a inventar”, conta.
Embora não se recorde de como surgiu o fascínio, lembra-se de adorar os sneakers do irmão e de, mais tarde, fazer coleção de Vans e All Star por serem mais pares mais Facessíveis. A partir do momento em que comprou os seus primeiros Nike Dunk High, brancos e roxos, nunca mais abandonou os modelos desportivos.
Ainda ponderou estudar design de calçado, mas optou por se licenciar em design de moda — e chegou a trabalhar como sylist e consultora na área. Porém, foi durante os sete anos como visual merchandiser na Nike que a paixão pela construção destas peças se consolidou.
Em 2023, cinco anos depois de sair da empresa, abriu o Shoelé, um atelier que começou por reparar e restaurar pares que pareciam não ter salvação. No início deste ano, Leonor decidiu dar uma reviravolta ao projeto e lançar um novo produto, as sneaker candles, ou seja, velas perfumadas que recriam modelos icónicos de sapatilhas.
“Os pais de uma colega de creche da minha filha tinham um curso onde ensinavam a fazer velas artesanais. Comecei a estudar o assunto e achei toda a mística super interessante”, recorda. “A parte das fragrâncias também sempre foi algo que me interessou.”
Foi então que começou a surgir a ideia de aliar esta curiosidade à paixão pelas sapatilhas. E começou a explorar uma ideia que, embora já exista em alguns espaços lá fora, ainda não se via em Portugal. Um novo interesse que foi atirando para o esquecimento a limpeza e o restauro.
O processo é o seguinte: começa por escolher um par icónico, normalmente os favoritos dos amantes destes artigos. As velas mais populares costumam ser as recriações dos Jordan ou os emblemáticos Air Max 1 da Nike. “As pessoas podem acender, mas não o costumam fazer.”
Ver esta publicação no Instagram
Depois, dedica-se aos moldes. A artista demora cerca de uma hora “para chegar aos pontos de temperatura ideais” e às cores. O material é colocado quente em moldes, que fica em preparação de um dia para o outro, mas tem um tempo de cura para os ingredientes, entre três a cinco dias.
Os modelos são 100 por cento vegan e feitos com cera de colza, sempre livres de parabenos e de testes em animais. E, mesmo nunca tendo trabalhado com ceras antes, sentia falta de fazer algo manual. “Complementa bem as minhas necessidades enquanto criativa.”
Além disso, também faz vasos. Os sneaker Planters surgiram quando Leonor percebeu que as velas não eram tão apelativas na estação quente. Foi quando descobriu a Jesmonite, uam resina orgância não tóxica, e começou a dar-lhe a mesma forma que fazia sucesso nas velas.
“Uma das diferenças é que, neste caso, a peça fica logo feita. Mas tem um processo de lixamento que demora um pouco mais e, no final, é selada para que não manche”, explica a artista.
As velas são criadas por Leonor no seu atelier caseiro, que depois vende online, em concept stores — como a Re-shoes, no Parque das Nações, e o Atelier Concept Store, em Azeitão — e em alguns mercados espalhados pela capital, como o Mīrārī e o Anjos70.
Normalmente, as reações são sempre as mesmas. “As pessoas acham a ideia diferente e gostam do facto das Shoelé terem fragrâncias”, conclui. O mais engraçado é que as pessoas acham que são mesmo sapatos infatis e só depois é que percebem do que realmente se trata.
As velas e os vasos estão disponíveis na página da Etsy da Shoelé. Os preços variam entre os 12,90€ e os 44,90€.
Carregue na galeria para ver algumas das peças criadas por Leonor.