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É um dos rostos do Mercado da Vila: a cascalense que se dedica a fazer peças em lã artesanal

Aos 61 anos, Maria do Carmo Bruschy tem muito orgulho na sua "Tumtum". Para 2025, deseja fazer uma exposição.
A banca da "Tumtum".

Maria do Carmo Silva Bruschy da Fonseca, conhecida em Cascais como Tumtum Bruschy, sempre foi uma miúda desenrascada e com uma veia artística. Com apenas 9 anos, em conjunto com as primas, colocava uma toalha no chão, na Rua Direita, e vendia pequenos elefantes feitos em fimo. Hoje, é no Mercado da Vila que vende as peças que faz — todas de lã. 

“Não me lembro do preço, mas recordo-me que fazíamos elefantes com as orelhas muito grandes e, quando alguém passava pela nossa humilde banca, ficava sempre curioso por serem miúdas a vender. Chegava-me sempre à frente e vendia a minha ideia de ser uma plasticina que ficava dura quando ia ao forno. Com o dinheiro íamos comprar roupa ao mercado, afinal uma adolescente tinha de andar na moda”, começa por contar à New in Cascais. 

Filha de um engenheiro e de uma dona de casa, menciona que a família é cheia de artistas não oficiais e que aprendeu quase tudo o que sabe com a mãe. O pai era um intelectual e passava o tempo livre a ler, sendo que a mãe era quem tratava de toda a bricolage. Fazia muito tricô e, inclusive, chegava a confecionar tapetes de Arraiolos.

“Fui a última de quatro filhos e tenho ótimas memórias da minha infância. A minha família era muito unida e tive a sorte de ter pais que se preocupavam bastante comigo e que tinham boas condições. Eu andava no Colégio Ramalhão, no entanto, tudo mudou para um período de incerteza quando aconteceu o 25 de Abril”, conta.

Tinha 10 anos na altura da Revolução dos Cravos. As contas dos pais foram congeladas e viviam sem saber o que iria acontecer no dia seguinte. Foi obrigada a sair do ensino privado e a ir para a escola pública. Havia muita agitação e recorda-se de ir, em conjunto com os irmãos, ao supermercado, já que o racionamento só era entregue se a pessoa estivesse presente.

Aos 16 anos entra no liceu e ali começam as paixões de adolescente. Começou a namorar com o filho de um advogado que tinha fugido para o Brasil, depois da revolução de Abril. Quando ele partiu para o outro lado do Atlântico, mantiveram contacto e, numa das vindas a Portugal, Maria engravida. Acabou por ir viver para o Rio de Janeiro, onde nasce o filho, José Bernardo. Foi por lá que tirou o curso de Desenho Industrial.

“No meio desta aventura veio o segundo filho, o Frederico. Eu levava uma vida desafogada, mas em 1992 acabo por divorciar-me e venho com os meus filhos para Cascais para a zona de Parede, o que me deixou fragilizada a nível financeiro”, esclarece. É precisamente nesta altura que Maria começa a olhar para a arte, não apenas como um passatempo, mas como um negócio. 

Enquanto estava no último ano na faculdade, no Brasil, desenvolveu um estojo de joelharia sem puxadores e dobradiças. O equipamento fez sucesso e decidiu trazer a ideia para Portugal. Caminhava de porta em porta, na esperança de vender este projeto, e, com os contactos que foi angariando, chegou as várias joelharias de Lisboa. A partir daí, a pequena caixa de cartão e veludo chegou às maiores companhias de Portugal, refere Maria, e nasceu a “Tumtum”, em 1992. No entanto, alguns anos depois, a crise financeira fez o negócio cair. 

Neste período, apaixonou-se por um enólogo que trabalhava na Régua. Juntos remodelaram uma quinta em Lagos, no Algarve. Por lá dedicou-se à plantação vinhateira, mas o projeto acabou com a relação, em 2012.

“Apesar de nos termos separado, fiquei no Algarve até 2018, porque sempre tentámos ter filhos e nunca conseguimos, então acabámos por adotar dois irmãos, o Carlos e Fátima. Vim para Cascais quando estavam a acabar a escola, pronta para adotar uma nova vida”, acrescenta.

Antes de regressar, uma amiga holandesa, ofereceu-lhe um workshop de lã como presente. Aprendeu a fazer uma echarpe e ficou “fascinada” ao conhecer a história das ovelhas merino, com origem na Península Ibérica. A partir desse momento, começou a trabalhar a lã de forma artesanal. Já em Cascais, começou a fazer flores, figuras de proteção e outros objetos em lã.

Pode encontrar a Tumtum no Mercado da Vila, no primeiro de sábado e no último domingo de cada mês. Assume-se como uma mulher “muito realizada”, que assumiu o lado artístico aos 61 anos. Para 2025, tem o desejo de realizar uma exposição, composta por oito painéis de flores que contam a história da sua vida.

Carregue na galeria e conheça alguns trabalhos da cascalense.

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