A relação de Benedita Formosinho com o mundo da moda é familiar. A sua bisavó era modista, passos seguidos pela sua avó, que se dedicava à costura. Assim, Benedita cresceu rodeada de agulhas e tecidos, passando horas a entreter-se com os seus desenhos. Esta ligação levou-a, mais tarde, a seguir a área das Artes.
Após concluir o curso de Design de Moda na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, Benedita realizou o seu primeiro estágio, num atelier do designer português Ricardo Preto. “Isso deu-me muita clareza sobre o caminho que queria seguir”, salienta. Em 2018, Benedita teve a coragem de abrir um espaço da sua própria marca, em Setúbal. Nos sete anos seguintes, o seu negócio foi ganhando maior dimensão. Em 2021, inaugurou a primeira loja oficial, no Príncipe Real, em Lisboa, e a 20 de maio, chega a Cascais.
O novo espaço fica situado no icónico Relógio, o antigo edifício dos Paços do Concelho, no centro da vila. Para quem não conhece fica na praça 5 de Outubro, junto à Baía de Cascais. “Queremos continuar a aprofundar a nossa história e sentíamos que precisávamos de um local maior para o conseguir fazer. Aqui sentimos isto. Além de ser essencial para a marca estar nestes locais privilegiados”, explica Benedita à NiC.
Uma das zonas de destaque na nova loja é a zona onde os clientes podem conhecer o projeto de circularidade da marca ao ver expostos os excedentes de produção que são transformados nos novelos de fio que dão origem a novas peças da marca. “Em todas as coleções, existe um enorme desperdício de tecidos. Por isso, tivemos a ideia de transformar o nosso lixo em novas peças”, revela.
O processo envolve a recolha desses tecidos, que são levados para uma segunda fábrica, onde são transformados em novos novelos. Estes materiais são então vendidos aos clientes, que podem criar as suas próprias peças de roupa, ou então a marca pode produzir novas peças com deles.
“Este desperdício sempre me fez muita confusão. Sou uma pessoa que adora tecidos e o processo de criação começa na escolha dos materiais. E não conseguia desfazer-me destes pedacinhos que nunca poderiam servir para fazer uma peça. Até conseguirmos reunir excedentes suficientes para avançar com este projeto.”
Os novelos não são sujeitos a qualquer processo de tintura, por isso, a paleta de tons é limitada. Num futuro próximo, a marca pretende aproveitar excedentes de todas as cores para alargar a oferta. “É tudo o mais natural possível.“
A loja, com cerca de 64 metros quadrados, possui um espaço mais descontraído, pensado para oferecer conforto e lazer aos clientes. “Pretendíamos criar um ambiente acolhedor, quase como uma galeria de arte,” explica Benedita. Nesse recanto, encontra-se um espelho, um sofá e uma mesa onde está exposta uma peça, assim como a inspiração para a coleção mais recente.
No que toca à decoração, foi idealizada por toda a equipa. “Pensar todo o processo de materialização do que queríamos foi muito interessante. Ver tudo ganhar forma, desde os cabides às pedras.”
A designer valoriza a tradição e os elementos que, sete anos depois, continuam a ser o ADN da marca que criou, como os tons neutros e terrosos. “A seleção dos materiais foi muito natural e alinhada com aquilo que gosto de vestir e criar,” afirma.
Intitulada “Terra”, a nova coleção é um reflexo dessa filosofia, inspirada no “melhor que a natureza oferece,” sublinha. Destacam-se materiais como o linho, o cânhamo e fibras recicladas, que traçam “caminhos entre liberdade e estrutura.” Apesar de serem sazonais, as peças mantêm uma continuidade, permitindo que os clientes encontrem sempre o seus modelos favoritos.
Carregue na imagem para ver algumas imagens da loja Benedita Formosinho, em Cascais.