compras

Rico e pobre, masculino e feminino. Tudo se mistura na primeira coleção da Prothabitau

Nova marca nacional de vestuário masculino é um sonho de Bruno Reis. As peças, únicas, serão apresentadas a 26 de setembro.
(Foto: Manuel Manso)

Na memória, Bruno Reis guarda as batas que a sua e muitas outras avós usam no dia a dia. “Aquela bata de atravessar que nos remete para um universo mais humilde”, explica o lisboeta de 41 anos, que decidiu agarrar nessa peça e reimaginá-la. Primeiro, adaptou-a ao vestuário masculino e, depois, enriqueceu-a com um tecido tweed e algumas ferragens metálicas.

A peça faz parte da primeira coleção da Prothabitau, a marca que criou e vai apresentar a 25 de setembro. Um sonho antigo para o marketeer e antigo professor de ioga, que pôde finalmente encontrar um escape criativo na moda.

Já fez um pouco de tudo. Começou como ator e acabou por se formar em ioga. Ao fim de 12 anos a trabalhar como instrutor, virou-se para o marketing, área na qual ainda trabalha. 2017 foi o ano em que o foco começou a mudar, altura em que lançou um projeto de moda apenas com T-Shirts. “Sempre pensei em criar algo mais completo, que não fosse apenas uma só peça.” Foi preciso esperar quase sete anos para que o sonho se concretizasse.

“A moda sempre me acompanhou. Lembro-me de ser adolescente e ver todos os episódios do programa ’86 60 86′. Tudo o que dava na televisão sobre moda, via. E sempre fui muito particular na forma como me vestia, ainda em miúdo”, recorda. A beleza e a estética, visual e na comunicação, foram sendo apuradas. “Ser estilista, designer de moda, acho que talvez por condição familiar, nunca foi uma hipótese. Nem sequer pensava nisso.”

Decidido a cumprir a meta, começou a fazer formações, a “educar-se para a moda”. Estabelecidas as bases, muniu-se de “uma costureira que trabalha com os melhores” e que “costuma fazer peças para designers do panorama nacional”.

O desafio criativo era talvez o mais difícil. “No meio de tanta oferta, o que tenho de diferente para dizer?” Encontrou inspiração nas suas origens, na sua própria história e evolução.

“Cresci numa família de origens humildes, com poucos recursos, sejam financeiros, culturais e educativos. Mas, ao mesmo tempo, lutou-se para alcançar algo melhor. E, por outro lado, o meu caminho enquanto afirmação da minha sexualidade — sempre tentei masculinizar e evitar os meus trejeitos mais femininos, até chegar ao ponto de assumir aquilo que sou.”

Tudo isso traduziu-se numa primeira coleção, exclusivamente masculina, que aposta em “tecidos ricos e pobres, masculinos e femininos”. “Temos o tweed típico da Chanel, que é algo mais feminino, mas que pode ser usado de uma maneira masculina”, aponta. “O desafio da coleção é esse: conseguir que um homem olhe para a peça e a consiga usar no dia a dia, ao mesmo tempo que brinca com esses quatro elementos.”

A primeira leva de peças, feitas em parte com sobras de tecidos, inclui também uma série de acessórios, cujos preços variam entre os 35 e os 150 euros. Já as peças começam nos 130 e podem ir até aos 750 euros para camisas de cerimónia. “Os preços poderão variar porque será tudo feito sob encomenda. Não haverá fabrico em série. Cada peça será sempre única.”

A coleção vai estar em exibição na galeria Barros & Bernard, em Lisboa, a partir de 26 de setembro. “Ainda só existe uma peça de cada. É tudo feito de forma artesanal e, portanto, trata-se de uma edição limitada, mais restrita.”

Resta desvendar o último mistério: o do nome. A explicação é simples. “É uma junção de três palavras: prot, de protagonista; habit, peça de roupa em francês; e tau, o T grego, sinónimo de perfeição e amuleto da sorte”, conclui.

MAIS HISTÓRIAS DE CASCAIS

AGENDA