Raras são as obras — sejam séries ou filmes — que estreiam com uma pontuação perfeita de 100 por cento no Rotten Tomatoes (tanto por parte da crítica, como do público). Claro que, mesmo assim, existem algumas exceções. “Shōgun” é um destes casos raros, e chegou esta terça-feira, 27 de fevereiro, à Disney+.
Entre vários elogios, há um que tem estado mais presente: a comparação com “Game of Thrones“, o grande fenómeno da rival HBO. “É o primeiro épico desde a produção criada por George R.R. Martin que nos transporta perfeitamente para outra realidade”, descreve a “Variety”.
“‘Shōgun’ e ‘Game of Thrones’ partilham muitas semelhanças, como a mitologia, complexidades políticas, violência e personagens bem representadas”, acrescenta a “Screen Rant”.
Adaptada do romance de James Clavell, publicado em 1975 (e que em 1980 também serviu de inspiração para uma outra série), a narrativa com dez episódios decorre no Japão, em 1600, naquele que foi o início da guerra civil que mudou para sempre o país. O grande protagonista é Yoshii Toranaga (Hiroyuki Sanada), um nobre que luta constantemente pela sua sobrevivência após outros membros do Conselho de Regentes se terem virado contra ele.
Sempre a temer pela sua segurança, a sorte de Yoshii muda quando chega à região um navio europeu liderado por um capitão inglês (Cosmo Jarvis). John Blackthorne assegura que guarda segredos que podem ajudar Toranaga a reduzir a influência dos padres jesuítas e comerciantes portugueses no Japão — sim, também estamos representados na obra realizada por Frederick E.O. Toye.
A produção foi gravada ao longo de 11 meses em Vancouver, no Canadá. Cosmo, de 34 anos, descreve a experiência ao jornal britânico “The Guardian” como sendo “incrivelmente assustadora”. Afinal, as filmagens começaram em setembro de 2021, quando a Covid-19 era uma ameaça ainda maior.
No nono mês, todo o elenco estava cansado e farto daquele trabalho. A equipa, porém, continuava a alargar a janela para ter a certeza de que tudo ficava perfeito. O esforço acabou por ser recompensado — especialmente quando temos em consideração as avaliações que está a receber.
Estar tanto tempo na pele de Blackthorne acabou por afetar os maneirismos e a forma de falar de Jarvis. “A nossa função é esquecermo-nos de quem somos durante um longo período de tempo. Depois, comecei a apanhar algumas das coisas que tornam a minha personagem tão única, o que inclui vocabulário e a forma como ele se apresenta ao mundo”, explica o ator, desta vez, ao site “Uproxx”.
Voltar à sua própria vida foi quase como “um choque cultural”, e durante algum tempo evitou falar muito com a família e os amigos. “Queria reencontrar-me primeiro antes de voltar a estabelecer estas ligações”. E acrescenta: “Foi uma boa experiência de aprendizagem.”
No passado, o ator britânico já trabalhou em fenómenos como “Peaky Blinders”, “Lady Macbeth”, “Raised By Wolves” (de Ridley Scott), entre muitos outros. “Shōgun”, porém, foi um trabalho inigualável.
“Gostei imediatamente de toda a premissa e o período e o país em que a história decorre”, descreve. Não é algo com o qual tivesse tido muito contacto em Hollywood, e isso fazia com que todos os dias “fossem diferentes e extremamente prazerosos”. “Foi uma grande aventura”, resume.
Para encarnarem os seus respetivos papéis, Cosmo e os colegas de elenco tiveram de aprender a manusear espadas, uma habilidade que adquiriram em poucos dias — apesar de terem apenas as noções básicas. “O John não era muito bom lutador”, brinca.
A preparação não se ficou por aqui. Para encarnar perfeitamente um capitão daquele período, Jarvis ouviu gravações de navegadores do século XX. “Um deles tinha uma voz muito aguda, quase como o vento. Tentei aplicar isso ao Blackthorne, mas não me pareceu correto”, comenta.
O realismo de que necessitava estava, afinal, no seu próprio pai. “O meu velhote era comerciante e andava muitas vezes pelo mar, então fui buscar muita inspiração a ele. A confiança que ele tinha e a forma como falava adequavam-se perfeitamente ao capitão”.