A segunda edição do Coala Festival despediu-se do Hipódromo Manuel Possolo com uma lenda da música brasileira, Ney Matogrosso. O cantor de 83 anos subiu ao palco cinco minutos após a hora marcada, às 22h35, para apresentar “Atento aos Sinais” — espectáculo que passou pelo Porto a semana passada, a 29 de maio.
O concerto em Cascais foi marcado por uma performance intensa e vibrante, com figurinos brilhantes e movimentos enérgicos, características que definem o seu estilo arrojado que desafia convenções sociais e culturais. Ney Matogrosso é também conhecido pela sua estética andrógina, maquiagem marcante e vestuário ousado, tornaram um ícone da liberdade de expressão e da contracultura no Brasil.
A sua sonoridade combina elementos de MPB, rock e música folclórica brasileira. Em 2012, a revista “Rolling Stone Brasil” classificou-o como a terceira maior voz do país. Ney começou a carreira como vocalista do grupo Secos & Molhados, com quem lançou dois álbuns entre 1973 e 1974, que se tornaram marcos no Brasil, vendendo mais de um milhão de cópias.
Em 1974, seguiu carreira a solo, estreando-se com o álbum “Água do Céu – Pássaro” (1975), que apresentou uma sonoridade vanguardista e uma estética teatral, embora tenha tido vendas modestas. Decidiu, então, começar a interpretar temas de outros compositores, como Chico Buarque, Cartola ou Tom Jobim.
O reconhecimento veio em 1976 com o disco “Bandido”, que incluía o sucesso “Bandido Corazón”, composto por Rita Lee, consolidando Ney como um dos artistas mais ousados e influentes da época, mesmo enfrentando a repressão da ditadura militar.
Ao longo das décadas seguintes, lançou uma série de álbuns aclamados, como “Pecado” (1977), “Feitiço” (1978), “Seu Tipo” (1979), “Sujeito Estranho” (1980), “Ney Matogrosso” (1981) — que inclui o emblemático tema “Homem com H” — e muitos outros, explorando diferentes estilos.
O cantor abriu a performance em Cascais com “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, seguindo para “Jardins da Babilónia” e passando por “Beco”. Uma abertura que correspondeu às expectativas dos fãs, com muitos a entoarem os refrões.
O seu repertório conta ainda com canções como “Álcool (Bolero Filosófico)”, “A Maçã”, “Mulher Barriguda”, “Poema”, “Sangue Latino” e “Sorte”, que lhe garantem mais de dois milhões de ouvintes mensais na plataforma de streaming Spotify.
Ney Matogrosso, artista reconhecido pela sua versatilidade, inovação e capacidade de se reinventar, encerrou, assim, a segunda edição do evento que reuniu artistas como Linikier, Lena d’Água, Ana Lua Caiano, António Zambujo, Liniker, Xande de Pilares ou Djodje —, com o objetivo de promover a fusão entre música lusófona e ritmos contemporâneos.
Após 10 anos de sucesso no Brasil, o Coala Festival chegou a Portugal em 2024, trazendo vários nomes de peso da cultura musical brasileira, como Jorge Ben Jor, Gilberto Gil ou Rubel. Essa primeira edição arrancou com dois dias esgotados e mais de 20 mil pessoas.
Carregue na galeria para ver mais imagens do concerto de Ney Matogrosso, no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais.