Fábio Ventura era um miúdo criativo e com uma imaginação muito fértil. Sempre teve uma “necessidade extrema de deitar isso para fora, de alguma maneira”. Cedo percebeu que a escrita era uma forma “prática e fácil de transmitir essa criatividade para o mundo”. A paixão nunca o abandonou e, no final de maio, lançou um novo livro.
“Gatos na Noite” não é a primeira obra que publica. A estreia aconteceu quando tinha apenas 21 anos (atualmente tem 37). Durante os tempos da universidade começou a apostar no seu talento e chamou a atenção da Casa das Letras, uma chancela da Leya. “Era aquela altura em que o ‘Crepúsculo’ estava na berra”, conta.
“Orbias: As Guerreiras da Deusa” foi um sucesso de vendas, garante. No ano seguinte, em 2010, publicou “Demónio Branco”, a sequela “que também correu muito bem”. Tudo parecia estar encaminhado para uma carreira literária de sucesso, mas a crise pôs um travão ao ímpeto de Fábio. “Fiquei com a carreira interrompida. O mercado dos livros sofreu bastante e, depois, estive muitos anos sem publicar nada”, lamenta.
Em 2020 decidiu voltar a escrever e apostou na autopublicação do livro “A Morte Quer-me Tão Bem”, vendido apenas na Amazon. Dois anos depois, publicou “Corações de Papel”, através da Minotauro. A obra, muito elogiada e partilhada nas redes sociais, voltou a ser um sucesso de vendas.
Crente de que conseguiria replicar o êxito que teve no início da década anterior, Fábio Ventura lançou agora um novo trabalho que está a ser muito aplaudido no Bookstagram e Booktok (páginas de Instagram e Tik Tok dedicadas aos livros). “Tenho recebido muitas mensagens e muito carinho. Não me quero gabar, mas estão muitas pessoas a comparar-me ao Stephen King, o que para mim é um grande elogio.”
O escritor norte-americano foi, na verdade, uma das inspirações de Fábio para criar “Gatos na Noite” — mas não foi o único. “Tenho uma escrita mais cinematográfica e sou muito visual. Fui beber a séries de televisão e filmes, como ‘A Maldição de Hill House’ da Netflix”. Mike Flanagan, o realizador e criador da obra, é outro dos seus ídolos.
O livro é um thriller psicológico “que pisca o olho ao paranormal”. Fala muito sobre o inconsciente — o que levou o autor a pesquisar mais sobre este tópico para se preparar — e acompanha uma família que se muda para uma casa no Algarve em 1999. O pai é psicólogo e investigador na área do inconsciente. Tal como Jack Torrance em “The Shining”, mudou-se para conseguir completar o seu trabalho.
Ao longo do ano, começam a acontecer situações bizarras que envolvem a família, como se a casa estivesse assombrada. No final de 1999, o pai, Mateus, desaparece sem deixar rasto.
Saltamos depois para a atualidade, ou seja, cerca de 23 anos após esse acontecimento, e acompanhamos os quatro irmãos. Cada um seguiu o seu caminho, mas reencontram-se quando recebem a notícia de que o pai apareceu. “Voltam assim os traumas todos e as situações estranhas que viveram em 1999. A narrativa vai alternando entre as vozes dos irmãos e o leitor descobre, aos poucos, o que aconteceu. Há muitos plot twists e reviravoltas”, garante o autor.
Apesar de não ser inspirado numa história real, “Gatos na Noite” centra-se em tópicos muito atuais, nomeadamente a identidade de género (uma das personagens é trans), bullying e orientação sexual. Uma das preocupações de Fábio Ventura é a representatividade, que já estava presente em “Corações de Papel”. “É algo que falta na literatura em Portugal. Neste caso, é abordado forma muito subtil e normal”, destaca.
Começou a escrever este livro em agosto do ano passado e terminou em novembro. O processo foi rápido, mas faz sentido quando descobrimos que, quando começa, Fábio torna-se obcecado. No entanto, o caminho não esteve livre de obstáculos. A maior dificuldade foi conciliar o seu trabalho do dia a dia com esta atividade paralela — o autor trabalha na área da comunicação autárquica, o que consome muito tempo.
O facto de escrever na primeira pessoa também dificultou esta experiência. “Desde o início que coloquei na cabeça que queria ter quatro irmão e vozes muito diferentes. Não foi nada fácil. Quase que parecia uma escrita esquizofrénica e em cada capítulo tinha de mudar o chip. Foi muito difícil criar vozes e perspectivas diferentes, mas também me deu muito prazer, apesar de ser emocionalmente desgastante”, confessa, acrescentando que quando finalmente chegou ao fim “estava de rastos”.
Como não gosta de estar parado — e, lá está, precisa de dar a sua criatividade ao mundo —já está a criar o seu próximo livro. Ainda não começou a escrevê-lo, mas já o tem pensado. “É uma história nova, mas vai ter ligações às obras anteriores. As minhas histórias são sempre diferentes, mas decorrem nos mesmos universos e há piscadelas de olho às publicações anteriores, o que também agrada aqueles que me vão acompanhado.”
“Gatos na Noite” já está à venda nas livrarias físicas e online. Atualmente, tem com 10 por cento de desconto e custa 17,91€, em vez dos 19,90€ originais.