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Bestseller de João Tordo vai dar origem a uma série de televisão

O realizador da obra, inspirada em "Águas Passadas", será Bruno Gascon. Vai ser produzida pela Caracol Studios.
As gravações devem arrancar em 2025.

Joana Domingues ficou presa a cada palavra escrita por João Tordo no bestseller “Águas Passadas”. Também por isso a produtora portuguesa, fundadora da Caracol Studios, tenha feito de tudo para conseguir transformar a obra numa série de televisão. O sonho está cada vez mais perto de se tornar realidade e as gravações deverão começar em 2025, conta em entrevista.

Porquê uma série e não um filme? “Tem tanto detalhe, pormenores tão bons, interessantes e personagens cativantes, que precisam de espaço e tempo para crescerem. Não queremos defraudar quem gostou tanto da obra e queremos ser o mais fiéis possível”, conta a produtora.

A narrativa não se vai desviar da original. A história arranca em janeiro de 2019, quando uma jovem de 15 anos aparece morta na praia de Assentiz. A jovem vítima é Charlie, filha de um empresário inglês. A primeira agente a chegar ao local é Pilar Benamor, uma subcomissária da PSP cuja coragem e empenho em descobrir a verdade ocultam segredos dolorosos.

Eis que surge um segundo cadáver, de um rapaz de 17 anos na floresta de Monsanto, em condições assustadoras. Estas duas mortes prematuras e violentas abrem caminho a uma investigação que vai descarnar a alta sociedade portuguesa e o submundo do crime.

Ao longo do inverno, Pilar tenta descobrir o que aconteceu com a ajuda de Cícero, um misterioso eremita. “Desobedecendo a ordens superiores e colocando a própria vida em risco, vai penetrar no mundo escuro e tenebroso de um psicopata, enquanto luta com os fantasmas que há muito carrega: um pai polícia que morreu em serviço, um vício que a consome e a vulnerabilidade num mundo dominado por homens”, lê-se na sinopse.

A oportunidade de transformar o livro numa série surgiu após o pitch da Caracol, liderada por Joana, de 36 anos, ter vencido o Conecta Fiction, um evento na área do audiovisual que decorre em Toledo. É ali que se estabelecem ligações para que os projetos se tornem realidade. Fala-se com streamers, canais de televisão e outros para conseguirem encontrar o próximo grande fenómeno do entretenimento. Entre mais de 300 ideias apresentadas, “Águas Passadas” foi uma das oito selecionadas. “É um projeto com um elevado potencial para a internacionalização”, descreve.

Quem falou do bestseller à produtora foi o realizador Bruno Gascon. Ambos já trabalharam juntos em “Irreversível”, uma série de drama que esteve presente no MIPDrama, um evento paralelo ao Festival de Cannes. “Fui ler sem perceber para o que ia, mas sou fã de thrillers. A escrita do João Tordo nesta história é diferente de tudo o que já li em Portugal. Toca em coisas que me dizem muito, nomeadamente os direitos da mulher.”

Também fala de assuntos como a crise na banca e crise de valores. “Ele cria um mosaico extremamente realista e de forma interessante que cria uma leitura compulsiva.” Descreve Pilar como uma mulher forte e Cícero como um eremita com uma cultura geral acima da média. Em conjunto, dão mais ao texto do que apenas uns polícias que querem resolver um crime.

Ainda está tudo numa fase muito inicial. Agora, o objetivo é “juntar todas as peças de forma a completar a imagem que nos vai permitir chegar à rodagem”, explica. Ou seja, tem de tratar do financiamento, encontrar parceiros de canais televisivos ou plataformas de streaming, fornecer todas as ferramentas para que João possa trabalhar na adaptação e para que Bruno Gascon consiga desenhar o que imagina na realização.

A atriz que interpretará Pilar já foi escolhida, mas Joana ainda não revela quem será. Diz, contudo, que foi uma decisão unânime e que se trata de um nome “que os leitores e quem vir a série vai perceber o porquê de a termos escolhido”. Também já estão em processo de escolha do ator que encarnará Cícero.

Tal como muitos outros fenómenos recentes em Portugal, nomeadamente “Operação Maré Negra”, “Águas Passadas” esta será uma coprodução entre Portugal e Espanha, neste caso com Paloma Mora, que já ajudou a criar “De Espaldas al Mar”. “Quando falei deste projeto, ela quis de imediato participar. As coproduções são como um casamento: para as coisas resultarem é preciso haver química”, brinca.

Originalmente formada em Jornalismo, Joana Domingues começou a apostar na produção em 2016. Na verdade, este papel já ia ao encontro do que fazia habitualmente. “Como os jornalistas sabem, somos produtores das nossas próprias reportagens e temos de fazer um bocadinho de tudo. Eu era particularmente boa a resolver problemas. Um produtor acaba por ser um facilitador e alguém que consegue montar uma equipa e, do nada, construir algo.”

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