Nasceu em 1924 e morreu no passado dia 8 de maio, pouco antes de celebrar um século de vida. No entanto, a arte de José de Almeida Araújo é intemporal e a prova disso mesmo, é a exposição inaugurada no Centro Cultural de Cascais na passada sexta-feira, 24 de maio. “Almeida Araújo: Fotografia e Pintura” reúne duas das linguagens artísticas que entusiasmavam o talentoso e multifacetado artista português.
A mostra oferece ao público um olhar sobre a sua obra pictórica e fotográfica. Na primeira parte, dedicada à pintura, estão expostas 18 telas produzidas entre 1960 e 1994, entre retratos de familiares e amigos, e representações de paisagens portuguesas, francesas e brasileiras. Destaca-se a tela “Nureyev”, um retrato de Rudolf Khametovich Nureyev, considerado um dos melhores bailarinos do século XX.
Quanto às fotografias presentes na exposição, são registos do quotidiano de Londres, em Inglaterra, nos anos 50. As imagens — que foram antes publicadas no livro “London, Remains of the ’50s”, editado em 2013 — registam cenas urbanas (como aquela em que a figura clássica do polícia a dirigir o trânsito) em diferentes horas do dia e estações do ano, revelando um olhar peculiar do fotógrafo, com uma enorme cumplicidade com a cidade à sua volta.
Entre os retratos de pessoas na agitação citadina, encontram-se também parques e edifícios da capital inglesa. Almeida Araújo fotografou também personalidades da política e das artes como John F. Kennedy, Jeanne Moreau, Jean Cocteau e Roger Vadim.

Mas nem só de pintura e fotografia se construiu a carreira de José de Almeida Araújo. Ao longo da vida, assumiu diferentes perfis artísticos. Ora, vejamos: foi escultor, ator (contracenou com Virgílio Ferreira no clássico “Ave de Arribação” de Armando Miranda e apareceu em “Au grand balcon”, de Henri Decoin, que estreou no Festival de Cinema de Cannes em 1949) e arquiteto (projetou, por exemplo, o hotel Vilalara Thalassa, no Algarve).
Também editou e escreveu livros, como o já referido “London, Remains of the ’50s” e as suas memórias intituladas “A Vida aos Pedaços”. Dizia “que as artes são todas primas entre elas”.
Filho de pai português e mãe alemã judia, José Harry de Almeida Araújo cresceu com a família materna, em Berlim, tendo escapado às perseguições nazis. Já a adolescência e primeira juventude foram vividas em Cascais. No pós-guerra, descontente com o cenário português da época, emigrou, primeiro para Paris e depois para Londres. Foi amigo de estrelas como Jean Simmons, Danielle Dellorme, Sacha Guitry e John Wayne, e privou com Le Corbusier e também com Picasso, Henri Salvador, André Malraux e Errol Flynn.
Foi o artista escolhido para pintar o topo da maior galeria do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, onde também está “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. Ali realizou a “Adoração da Cruz”, uma grande pintura em óleo sobre madeira. Pintou ainda retratos de Winston Churchill e da Princesa Soraya do Irão.
Depois de uma vida de aventuras pelo mundo, José de Almeida Araújo fixou-se, de novo, em Cascais, onde terminou os seus dias. Aliás, nos últimos meses de vida, Almeida Araújo chegou a estar envolvido na preparação desta exposição, agora patente no Centro Cultural de Cascais. A iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito da programação do Bairro dos Museus, é também uma homenagem e um reconhecimento do município à do artista.
Poderá visitá-la até 23 de junho, de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas (última entrada às 17h40). O Centro Cultural de Cascais situa-se na Avenida Rei Humberto II de Itália, nº 16. O bilhete custa 5€ (com acesso a todas as exposições patentes no CCC), 15€ (com acesso a todos os equipamentos do Bairro dos Museus durante 24 horas), ou 25€ (com acesso a todos os equipamentos do Bairro dos Museus durante 72 horas).
