Bond, James Bond. Assim se diz o nome do mais famoso dos agentes secretos da história do cinema. Foi em 1953 que, após anos a trabalhar na guerra e, depois, como jornalista, Ian Fleming criou esta personagem com o livro “Casino Royale”. O escritor morreria em 1964, com apenas 56 anos, mas foi produtivo o bastante, nessa última década de vida, deixando quase 20 livros terminados.
Talvez Fleming não sonhasse com o sucesso que a personagem faria — já que o primeiro filme “007 Agente Secreto”, com Sean Connery, estreou apenas dois anos antes de falecer — mas, a verdade, é que James Bond e os filmes do 007 tornaram-se uma das referências maiores da cultura pop global. Os livros deram origem a filmes a partir do início dos anos 60 e a saga nunca mais parou, até 2021, quando estreou o último capítulo, “007: Sem Tempo Para Morrer”, o primeiro grande blockbuster a ser adiado por causa da pandemia.
Nesta história, James Bond está a tentar levar uma vida tranquila num sítio exótico agora que se reformou do serviço no MI6. Não demora muito até o seu pacato quotidiano ser interrompido, ao ser convocado para uma missão complexa, que é tão pessoal que se torna irresistível (e inevitável) para Bond. Pelo meio, alcança a redenção emocional e defronta um vilão perigoso, neste que é o último filme com o ator Daniel Craig.
Ao longo dos anos, houve vários atores a dar vida ao famoso agente secreto. Sean Connery viveu a personagens por seis vezes, entre 1962 e 1971. Pelo meio, George Lazenby protagonizou “007 – Ao Serviço de Sua Majestade”, em 1969. Roger Moore foi James Bond entre 1973 e 1985, em sete filmes. Seguiu-se Timothy Dalton, em duas produções, lançadas em 1987 e 1989. Nos quatro filmes seguintes, foi Pierce Brosnan que assumiu o papel, entre 1995 e 2002. Por último, Daniel Craig foi Bond em cinco produções, realizadas entre 2006 e 2021.
A relação com Portugal
É uma história conhecida, mas muitos fãs poderão não saber que as origens de James Bond estão diretamente relacionadas com Portugal. James Bond pode muito bem ter nascido no Estoril, como defende um documentário da BBC, e alguns autores especialistas no assunto. Passemos a contextualizar.
Ian Fleming era um oficial da marinha britânica em serviço, em Portugal, durante a Segunda Guerra Mundial. Neste período de grandes tumultos, Portugal era um país neutro na Europa ocidental, pelo que se tornou no albergue ideal para centenas de missões de espionagem. Pela zona de Lisboa e da linha de Cascais passaram espiões de diversas nacionalidades, que tinham como missão obter informações sobre o outro lado da guerra, estabelecer contactos ou relações diplomáticas.
Fleming passou uma grande temporada hospedado no Palácio Estoril Hotel. Foi lá, e no Casino Estoril, que observou e conheceu o homem que muitos acreditam ser — incluindo o próprio — a inspiração para a personagem de James Bond.
Popov, Dusko Popov. Não é tão memorável quanto James Bond, mas era o nome deste agente de nacionalidade sérvia que começou por estar ao serviço dos nazis. Contudo, rapidamente se voluntariou para ser agente duplo ao divulgar informações aos serviços secretos britânicos. Terá também desenvolvido contactos com os americanos durante a guerra — Popov estava atrás de dinheiro e de uma vida luxuosa.
Foi precisamente esse estilo de vida que Dusko Popov perpetuou no Estoril. Tinha gostos caros, era mulherengo e, ao contrário do que dizem as boas maneiras dos espiões, gostava de dar nas vistas. Tanto que acabou por deixar de ser visto como alguém confiável, até porque a sua família estava quase refém dos nazis em Belgrado. Supostamente, Popov alertou os EUA para o ataque que ia acontecer em Pearl Harbor. As autoridades americanas não confiaram na informação — e o ataque, como se sabe, aconteceu mesmo.
Ian Fleming nunca confirmou ter-se inspirado em Dusko Popov, mas muitos autores acreditam nessa hipótese. O próprio Popov confidenciou, na sua autobiografia, escrita após a morte de Fleming, que o autor de James Bond se tinha inspirado nele. E o Casino Estoril teria sido a grande inspiração para criar “Casino Royale”.
Essas origens foram honradas no cinema. Em 1969, grande parte do filme “007: Ao Serviço de Sua Majestade”, com o ator George Lazenby no papel de Bond — que tinha substituído Sean Connery — foi gravado em Portugal. O elenco ficou hospedado no Palácio Estoril Hotel, que também serviu de cenário para a história.
Aliás, dois funcionários do hotel, José Afonso e José Diogo, entraram na produção e ainda trabalhavam no hotel em 2019 — quando foi celebrado o 50.º aniversário da estreia do filme, que envolveu um regresso de George Lazenby ao Estoril.
“007: Ao Serviço de Sua Majestade” teve ainda gravações na Serra da Arrábida, na Praia do Guincho e no centro de Lisboa. O Palácio Estoril Hotel ficou para sempre associado às histórias de 007: além de promover atividades dedicadas à saga, tem uma suite James Bond.