2024 começou agora e pode parecer que estamos já muito longe da era em que a monarquia reinava em Portugal. Ainda assim, talvez tenha alguns hábitos em comum com reis e rainhas, como caminhar junto ao mar nas praias cascalenses logo de manhã, fazer passeios até ao Guincho ou praticar vela na costa do concelho. A verdade é que o rei D. Luís e a rainha D. Maria Pia já faziam tudo isto na segunda metade do século XIX, desempenhando um papel decisivo na transformação de Cascais para aquilo que é hoje a identidade do concelho.
Foi através do casal que a zona de Cascais se tornou num refúgio de lazer em Portugal. E são precisamente essas recordações que estão representadas na exposição “Memórias da Praia da Corte: D. Luís e D. Maria em Cascais”. Uma viagem no tempo que revive os momentos mais emblemáticos da presença da realeza no concelho, com peças museológicas, documentos históricos e tesouros bibliográficos que contam essa história.
Na mostra poderá descobrir algumas das rotinas da família real — como, por exemplo, o facto de D. Luís e D. Maria Pia frequentarem a Praia da Ribeira, pela manhã, enquanto os príncipes se banhavam na Boca do Asno, atual Praia da Rainha, mais protegida. O dia era depois ocupado com passeios até ao Estoril, ao Pinhal da Guia ou ao Guincho, onde por vezes se organizavam piqueniques e atividades como a pesca, a vela, o remo, a equitação, a caça ou o tiro aos pombos. Na altura, a imprensa cor de rosa noticiava todas estas atividades para satisfazer um público ávido de notícias sobre a família real.
“Podemos dizer que existiram dois Cascais: um antes de 1870, data em que foi fundado o Palácio Real e a partir do qual a Família Real passou a fazer o uso sazonal de banhos de mar, e um Cascais pós-1870 que se caracteriza por um período de crescimento enquanto Vila da Corte e Rainha das praias portuguesas”, afirmou João Miguel Henriques, diretor do Departamento de Arquivos, Bibliotecas e Património Histórico, na inauguração da exposição, que aconteceu no final de 2023.
Por lá vai poder conhecer fotografias e descobrir objetos da época, como uma das máquinas fotográficas da rainha D. Maria, réplicas de trajes de banho da altura, produzidas especialmente para esta exposição, a Taça Vasco da Gama (1898), troféu da primeira regata internacional disputada em Portugal, a edição original da obra de Júlio Verne “20 mil Léguas Submarinas” (1866), inspiração para D. Luís, ou até uma primeira edição em português de “Hamlet”, de Shakespeare, com tradução feita pelo próprio D. Luís em 1887.
Com curadoria de João Miguel Henriques, a exposição é organizada pela Fundação D. Luís I, em conjunto com a Câmara Municipal de Cascais. Pode visitá-la, na Galeria de Exposições do Palácio da Cidadela de Cascais, até ao dia 25 de fevereiro, de terça-feira a domingo, entre as 10 e as 18 horas (exceto entre as 13 e as 14 horas). O bilhete custa 3€.
A realeza da época
D. Luís, filho de D. Maria II e D. Fernando II, nasceu a 31 de outubro de 1838, vindo a ascender ao trono a 22 de dezembro de 1861, para suceder ao irmão mais velho, D. Pedro V, inesperadamente falecido. Casou-se no ano seguinte com D. Maria Pia de Saboia, filha do rei de Itália, que transformou o Palácio da Ajuda na residência permanente da família real portuguesa, onde nasceriam o príncipe D. Carlos, a 28 de setembro de 1863 e o príncipe D. Afonso, a 31 de julho de 1865.
De acordo com a Fundação D. Luís I, nessa época, “Cascais desenvolvia-se em função da moda dos banhos de mar, que trazia às suas praias os mais elegantes lisboetas. A definitiva nobilitação da vila remonta, porém, a 1867, quando recebeu pela primeira vez a visita da rainha D. Maria Pia, a que se seguiria a transformação da residência do governador da Cidadela no despretensioso Paço Real, que a partir de 1870 passou a acolher sazonalmente a Corte”.
“A sede do concelho experimentaria um intenso ciclo de desenvolvimento, materializado em algumas habitações que se transformariam na sua imagem de marca, como as dos duques de Loulé, dos duques de Palmela, do conde de Arnoso, do marquês do Faial ou de Jorge O’Neill, mais tarde adquirida por Manuel de Castro Guimarães. A inauguração do ramal ferroviário entre Cascais e Pedrouços, em 1889, depois estendido até Alcântara-Mar e, já em 1895, ao Cais do Sodré, acelerou este movimento, viabilizando projetos imobiliários de vulto por todo o litoral, nomeadamente no Monte Estoril e em S. João do Estoril, que permitiram o nascimento da Riviera de Portugal”, refere a organização.
D. Luís acabou mesmo por falecer em Cascais, a 19 de outubro de 1889. Porém, o interesse pela vila não diminuiu, razão pela qual D. Carlos decidiu ali sediar as suas campanhas oceanográficas e D. Maria Pia montou, no Monte Estoril, um pequeno paço, em que esteve instalada de 1893 até à implantação da República, em 1910.
“Ao rei D. Luís e à rainha D. Maria Pia se deveu a afirmação de Cascais enquanto capital do lazer em Portugal e o seu mais exuberante período de crescimento, a que se dedica esta exposição, organizada pela Fundação D. Luís I, que procura reconstituir os momentos mais simbólicos da sua passagem pelo concelho justapondo bens museológicos, arquivísticos e biblioteconómicos cedidos pelo Arquivo Histórico Municipal de Cascais, Associação Naval de Lisboa, Clube Naval de Lisboa, Fundação D. Luís I, Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães, Museu do Mar Rei D. Carlos I, Museu Nacional do Traje, Palácio Nacional da Ajuda e por colecionadores privados”, afirma a Fundação.
Carregue na galeria para conhecer alguns dos espaços da mostra.