Reconhecido pelas suas criações meticulosas e pela exploração da relação entre espaço e pintura, Martinho Costa trabalha a representação do quotidiano com uma dimensão onírica. Na sua nova exposição, “Contraforte”, que será inaugurada a 14 de março, o artista “eleva a pintura a uma escala inédita”, integrando-a na arquitetura do espaço expositivo do Centro Cultural de Cascais.
Esta mostra destaca-se pela sua abordagem inovadora da pintura, apresentando uma instalação site-specific (projetada para um local específico) que desafia os formatos tradicionais da apresentação artística. Com curadoria do arquiteto e curador Frederico Vicente, “Contraforte” reúne um conjunto de 34 pinturas apresentadas em três grandes composições, que transformam o espaço no último piso do Centro Cultural de Cascais.
Esta disposição especial redesenha a arquitetura do local, criando um percurso imersivo que estimula a interação entre o público e as obras. As telas, organizadas em murais que se estendem até quatro metros, servem como alicerces visuais de um “contraforte” pictórico, proporcionando uma experiência sensorial única ao visitante.
“Contraforte” propõe uma nova forma de observação, que o artista e o curador denominam “visão-pendular”. Este conceito implica um olhar dinâmico e contínuo, sem um ponto fixo de referência, incentivando o espectador a mover-se e a reavaliar a sua perceção do espaço e da pintura.

Embora inclua essa vertente, “Contraforte” não é apenas uma exposição de pintura, salienta o curador. “O que o artista pretende é resgatar de outras artes visuais, como a escultura, o happening ou até a arquitetura, o mesmo dinamismo, interação e a escala do observador participativo. O olhar é direcionado para um percurso em torno da obra, onde o verso é tão significativo quanto a frente”, acrescenta.
A série de obras em exibição inclui pinturas a óleo sobre tela de diversos formatos, que exploram temas do quotidiano e paisagens suburbanas. Os cenários retratados por Martinho Costa situam-se entre o ambiente urbano e a natureza, atravessados por linhas ferroviárias e um enigmático comboio noturno. Entre as pinturas em destaque, encontram-se “Painel de Azulejos” (2021), “Fragas de São Simão” (2023), “Pique Nique Horizontal” (2023) e “Entroncamento” (2024), que se integram na estrutura geométrica da instalação.
O percurso de Martinho Costa no panorama artístico contemporâneo é caracterizado pela versatilidade. A carreira do artista natural de Fátima abrange desde a pintura em tela até à produção de livros pintados em edições únicas e intervenções artísticas no espaço público, através do seu projeto “Pinturas ao Ar Livre”. Desde 2006, tem participado em diversas exposições individuais e coletivas, tanto em Portugal como no estrangeiro, e a sua obra integra importantes coleções, como a de Manuel de Brito, a da Fundação PLMJ, a de Rita Talhas e Gonçalo Lima, e a Navacerrada.
A exposição “Contraforte” integra a programação do Bairro dos Museus, uma iniciativa promovida pela Fundação D. Luís I e pela Câmara Municipal de Cascais, que sublinha o compromisso de ambas com a divulgação da arte contemporânea. Pode ser visitada até 18 de maio no Centro Cultural de Cascais, de terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. Os bilhetes custam 5€ e podem ser adquiridos online. Os munícipes, maiores de 65 anos e estudantes pagam apenas 2,5€ (mediante comprovativo).
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