Nos últimos anos — e especialmente em 2024 — as séries inspiradas nas vidas dos maiores criativos da indústria da moda estão por todo o lado. A tendência começou em 2021 com “Halston” da Netflix. Já este ano foram lançadas obras como “The New Look”, da Apple TV+, que conta a história de Christian Dior, e “Cristóbal Balenciaga”, da Disney+.
Esta última plataforma de streaming voltou a apostar neste formato, agora com uma nova inspiração: Karl Lagerfeld. Inspirada no livro “Kaiser Karl”, a série sobre o antigo diretor criativo da Chanel chama-se “Becoming Karl Lagerfeld” e estreia a 7 de junho.
Desta vez, o desafio foi ainda maior: “O Karl tinha uma muralha à sua volta e era muito misterioso”, explica Jérôme Salle, um dos realizadores. Para conseguirem retratar a sua história, tiveram de se encontrar com ele quando ainda era vivo. Falaram também com antigos funcionários da Chanel e até com um amigo de infância que vivia em Hamburgo.
A narrativa começa em 1972, quando Lagerfeld tinha 38 anos e ainda não usava o seu icónico rabo de cavalo. Era apenas um mero estilista do prêt-à-porter e desconhecido de grande parte do público. Numa altura em que conhece e se apaixona pelo sensual Jacques de Bascher, atreve-se a enfrentar o seu amigo — e depois rival — Yves Saint Laurent, um génio da altura costura.
Aliás, a série vai dar um grande destaque à rivalidade dos dois. “É muito importante, e muitos não sabem, que ele começou aos 20 anos, ao mesmo tempo que o Saint Laurent, o melhor amigo dele. Depois, acabaram por ter carreiras diferentes. Essa parte é muitas vezes esquecida, mas também é importante em ambas as suas vidas. Na série há ódio entre eles, mas também há amor”, revelam os responsáveis.
Na pele do grande protagonista está Daniel Brühl. Para os responsáveis pela obra, o ator encarnou perfeitamente o estilista. Aliás, queriam colaborar com ele desde que o conheceram. “Não tínhamos um plano B”, acrescenta Salle.
Ao longo dos seis episódios os espectadores vão ser transportados para o auge dos anos 70 em Paris, Mónaco e Roma, para poderem acompanhar o percurso desta personalidade complexa e icónica dentro do mundo da moda.
“Atrás da personagem que ele apresentava, havia uma pessoa envergonhada e muito vulnerável. Ele tentava proteger-se do mundo exterior”, revela, desta vez, Isaure Pisani-Ferry, criadora da série. Para ela, um dos momentos favoritos surge logo no primeiro episódio, quando Karl se está a vestir para mais um dia de trabalho. “Parecia um cavaleiro a preparar-se para uma guerra. Na verdade, todos os dias eram como um combate para ele”, reflete. E acrescenta: “Vamos mostrar o Lagerfeld como nunca o vimos”.
Muitos outros nomes da moda e do entretenimento são representados na produção, nomeadamente Paloma Picasso (Jeanne Damas), Loulou de La Falaise (Claire Laffut), Marlene Dietrich (Sunnyi Melles), Andy Warhol (Paul Spera) e, claro, Saint Laurent, interpretado por Arnaud Valois.
Outro destaque é Théodore Pellerin, que encarna o socialite Jacques de Bascher, que namorou Karl Lagerfeld. “Os meus momentos favoritos foram quando o Daniel e o Théodore contracenaram. Primeiro porque são atores fantásticos e depois porque havia muita química entre ambos e, acima de tudo, muita bondade. Não vejo isso muitas vezes na minha carreira e tornou tudo mais fácil e entusiasmante para todos nós. Sempre que filmávamos tinha um sentimento de que estava a ficar melhor do que esperava”, diz Jérôme Salle, de 52 anos.
Claro que uma obra altamente detalhada como esta também teve de ultrapassar por vários obstáculos. Para Raphaëlle Bacqué, o ator do livro em que a série se baseia, o que mais custou na criação dos episódios foi conseguirem “retratar quem ele era realmente”, pois era um homem muito privado e cheio de secretismo. “Esse foi o grande desafio, mas acho que fomos bem-sucedidos”, acrescenta.
A preparação também careceu de muita pesquisa. Para isso, os criadores, o realizador e Raphaëlle (o escritor) falaram, lá está, com muitas das pessoas que fizeram parte da vida do estilista. “Queríamos retratar o Karl da melhor forma e não queríamos falar com alguém que não o conhecesse a sério. Esta é uma série muito bonita de se ver por causa disso e, claro, graças aos figurinos e aos sets”, conclui Isaure