Iolanda deu “O Grito” e Portugal ouviu-a com toda a atenção — e gostou. A artista de 29 anos foi a grande vencedora da mais recente edição do Festival da Canção, cuja final decorreu no passado dia 9 de março. Será ela a representar o País na Eurovisão, que este ano terá lugar em Malmö, na Suécia, entre 7 e 11 de maio.
É, para a cantora, a maior oportunidade da sua carreira, embora fosse já um nome conhecido de muitos portugueses. Até porque já participou diversos programas de televisão, embora sem grande sucesso.
Estreou-se nos concursos de talentos em dezembro de 2008, tinha apenas 14 anos. Foi uma das concorrentes do “Uma Canção Para Ti”, na TVI, onde interpretou “Lisboa Não Sejas Francesa”, um tema original de Amália Rodrigues. Passou a primeira fase, mas acabou eliminada na segunda gala.
Confiante daquilo que tinha para mostrar, candidatou-se, quatro anos depois, ao “Ídolos”, onde apresentou “Cavaleiro Andante” de Rita Guerra, mas nunca chegou às galas em direto. Já com 19 anos, trocou o programa da SIC pelo “The Voice Portugal”, da RTP.
À frente de Marisa Liz, Mickael Carreira, Anselmo Ralph e Rui Reininho cantou “Who You Are”, de Jessie J. A prestação não foi o suficiente para virar as cadeiras dos jurados. Em lágrimas, afirmou o quão difícil estava a ser o seu percurso na indústria musical: “É complicado, já tentei várias vezes.”
Apesar dos contratempos, nunca desistiu e continuou a cantar. A jovem, natural da Figueira da Foz, também aprendeu a tocar vários instrumentos como guitarra, saxofone, piano e cavaquinho.
O seu primeiro EP, “Cura”, foi editado em 2023. Nele incluem-se temas como “31 de Dezembro de 2020”, “Lugar Certo”, “V de Volta” ou “Estas São As Últimas Canções Que Escrevo Sobre Ti”.
Ao longo do ano, prevê-se que Iolanda esteja bastante ocupada, já que tem atuações confirmadas em diferentes casas e festivais. Foi a primeira confirmação d’A Porta, um festival de Leiria, onde subirá ao palco a 15 de junho. Mas antes, vai passar pelo Sónar e pelo Capitólio, num espetáculo já esgotado.
Estivemos à conversa com a artista, no rescaldo da conquista no Festival da Canção e sobre o que podemos esperar da sua apresentação na Suécia.
Qual foi a primeira coisa em que pensou quando percebeu que tinha vencido o Festival?
A primeira coisa em que eu pensei foi na dimensão que vai ser uma Eurovisão na Suécia, com os 50 anos dos ABBA. Estou mega entusiasmada com o que vai acontecer.
Sendo que houve muita conversa durante todo o processo e a iolanda foi desde cedo considerada uma das favoritas a ganhar, quais é que eram as expectativas durante as várias fases?
Tentei afastar-me muito dessas expectativas que foram sendo criadas tanto nas odds como nas casas de apostas. Quis muito apresentar a minha canção da melhor forma possível e fiquei muito feliz por ter ficado em segundo lugar no voto do público, o que significa que as pessoas queriam ter-me como a sua representante. Tentei-me sempre afastar e manter a calma. De 0 a 10 estava num 5 no que diz respeito à confiança, mas sempre com os pés na terra porque, na verdade, éramos 12 na final e, se pensarmos em probabilidade, podia não ser a primeira.
Do que trata “O Grito”?
É uma canção que fala sobre a minha saúde mental e a minha vontade de querer ter uma perspetiva diferente sobre mim própria, sobre os outros e sobre a forma como vejo a vida. Queria muito falar sobre coisas mais pessoais. O meu primeiro EP tratou muito o amor e agora queria algo mais pessoal, e assim surgiu “O Grito”. As letras e as palavras pretendem construir um futuro melhor para mim e para quem se revê na canção. É uma luz e um grito de esperança.
Depois deste passo, como é que se sente por ir tocar na Eurovisão?
Não sei. Estou tão estimulada por esta sensação de vitória, claro, mas também sinto muita responsabilidade por levar o meu País comigo e por me terem escolhido para representar Portugal na Suécia. Vai ser um evento maravilhoso, mas não sei o que esperar porque nunca fui à Suécia. Estou muito entusiasmada com a comida que eles têm porque não sei o que se come. Acho que vai ser uma festa inacreditável e que vou levar comigo para o resto dos meus dias.
Algum dos últimos artistas que representou Portugal inspira aquilo que cria hoje?
Tudo aquilo que eu ouço ou vejo tem alguma inspiração e detém algum poder sobre nós enquanto artistas. Nós tentamos sempre aprender com isso. Gostei muito da performance da Maro, do Salvador e da Mimicat, que tem uma voz inacreditável. A “Senhora do Mar” foi a primeira canção que ouvi com ouvidos de ouvir no Festival da Canção e que depois nos representou em 2008. Foi essa a canção que, na verdade, me deu aquele bichinho para um dia querer fazer parte disto. E hoje estamos aqui.
Antes da Eurovisão, vai atuar no Sónar. Como é que vai ser o concerto e o que terá de diferente a nível de espetáculo daquilo que já vamos conhecendo?
Vai ser o meu primeiro concerto a solo num evento tão emblemático como o Sónar. É um festival super interessante e estou muito feliz por ter sido convidada. É um festival eletrónico com muitos artistas que eu não conhecia. Venho de um lado um bocadinho mais tradicional, pop e R&B, e de repente estar a aprender com malta que tem um estilo tão diferente, é muito fixe e enriquecedor. Estou muito entusiasmada com o que aí vem. Quero fazer um concerto diferente e adaptado a um festival tão especial como este.
Depois da Eurovisão, também vai ter um concerto no Capitólio.
Estou muito feliz por isso. Esgotámos o Capitólio no domingo [10 de março]. É uma sensação inacreditável de muita felicidade porque é a primeira data em nome próprio numa sala icónica. Estou a preparar um concerto que seja inesquecível e que possa mostrar toda a viagem, desde o meu primeiro EP, o “Cura”, até agora — talvez com algumas canções que ainda não saíram. Quero presentear as pessoas que me acompanham desde o início e que já foram a concertos anteriores meus. Vai ser um concerto muito feliz.
Este fim de semana foi uma dupla vitória, entre ter vencido o Festival da Canção e ter esgotado o Capitólio. Esperava esta procura e atenção do público?
Tinha alguma esperança. Vivo sempre de muita esperança e esperava que as pessoas gostassem daquilo que eu faço. E as pessoas gostaram e falaram.