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A doença de pele que quase toda a gente tem uma vez na vida (mas desvaloriza)

É bastante frequente entre os portugueses e, por vezes, pode mesmo chegar a retirar-lhes qualidade de vida.
Caracteriza-se pelas manchas vermelhas.

Já alguma vez teve umas manchas vermelhas na pele e não percebeu porque é que lhe tinham aparecido? É desta forma que se caracteriza a urticária: com o aparecimento súbdito de lesões cutâneas, de vários tamanhos, que causam muita comichão — e podem surgir em qualquer zona do corpo.

Por norma, cada baba dura menos de 24 horas, no entanto, aparecem novas quando as anteriores desaparecem (sem deixar qualquer tipo de rasto). Esta é uma doença que  habitualmente não se estende para lá das seis semanas e nesta situação falamos de uma urticária aguda.

“Também existe a urticária crónica, que é aquela que ultrapassa esse período. Além disso, é possível de em vez de existirem as manchas, a pessoa começar a sentir um grande inchaço numa zona especifica, o nome técnico é angioedema. É mais perigoso, porque dependendo da parte onde surge pode causar algumas complicações. Se pensarmos no pescoço, por exemplo, o paciente pode ficar sem conseguir respirar. No fundo, isto acontece quando há uma irritação dos tecidos subcutâneos e submucosas, que são mais profundos ao nível da pele. Em casos mais extremos, é possível ter os dois sintomas, tanto as manchas como o inchaço”, começa por contar à NiT Marta Ribeiro Teixeira, Dermatologista na Clínica Espregueira, no Porto.

Atualmente esta é uma doença que afeta pelo menos 20 por cento da população mundial, o que se reflete em cerca de uma em cada cinco pessoas. Na opinião da especialista, este é um número que fica aquém da realidade, uma vez que nas suas consultas todos os dias existe pelo menos um paciente com este problema.

É mais frequente que surja nas mulheres, graças a fatores hormonais, e pode aparecer em qualquer fase da vida e idade. Ainda assim, é muito frequente nos miúdos: “a infância é uma altura muito propicia porque os mais novos estão sempre doentes com outras infeções. Por exemplo, uma simples infeção viral como uma constipação pode ser um fator desencadeador.”

Este é um dos motivos originadores da urticária, que pode desenvolver-se de forma espontânea (70 por cento das vezes) ou com uma causa adjacente. A toma de alguns medicamentos, como o paracetamol, que é dos mais comuns, é um dos motivos mais frequentes nos adultos. O stress e os problemas relacionados com a tiroide também podem ser os culpados.

“Certos alimentos também têm este efeito, não precisam de estar estragados, há pessoas que simplesmente fazem estas reações. É recorrente que alguém vá a um restaurante chinês, por exemplo, e depois apareçam-lhe estas manchas. Um cancro não detetado também pode ser uma das causas, bem como infeções ocultas, provocadas por parasitas nos intestinos ou raízes dos dentes.”

Outra das causas mais comuns são os banhos de água muito quentes e a transpiração depois de um treino. Aqui falamos de um tipo de urticária muito específico, a urticária colinérgica, associada ao aumento da temperatura corporal. Também existe a de pressão, quando, por exemplo, carregamos uma mala muito pesada no ombro e ficamos com a marca.

“Como é fácil de entender, podem ser vários os motivos que podem levar à origem desta doença. É importante que as pessoas percebam que é necessário ir ao médico e que não se devem auto medicar com anti-histamínicos (exceto caso isto lhes aconteça muito recorrentemente e já seja uma forma prescrita de prevenção). Até porque se de facto existir um fator relacionado com o seu aparecimento também é preciso tratá-lo.”

O que acontece é que os pacientes acabam por não recorrer a ajuda especializada, porque uma vez que as manchas desaparecem muito rapidamente, pensam que já não têm nada para mostrar, e que por isso não adianta.

“Vale sempre. A verdade é que a maioria dos casos que trato diariamente avalio as lesões com base nas fotografias que as pessoas tiraram, porque muitas não conseguem ir ao médico logo no próprio dia. As tecnologias também têm estas vantagens. Desta forma, consigo ver como estava a lesão cutânea e, com base nos sintomas descritos, posso tratar o problema.”

Uma das formas de o prevenir é fazendo simples alterações ao estilo de vida, que podem ajudar a impedir que a urticária se repita no futuro. Se a pessoa é alérgica a algo que sabe que lhe pode causar uma reação, deve evitar qualquer exposição, por exemplo. Além disso, existem vacinas para as alergias, que são outra opção para reduzir o risco de a doença voltar a aparecer novamente.

“Esta patologia não é contagiosa de pessoa para pessoa, no entanto, é importante referirmos que tem uma forte componente hereditária e genética. Se na família tem alguém que já sofre com este problema, a propensão para vir também a sofrer é muito maior.”

Embora a urticária ainda seja muito desvalorizada no dia a dia, pode ter muito impacto na qualidade de vida. “É só pensarmos numa situação de stress, uma apresentação de um trabalho ou uma reunião importante no emprego. Imaginem o que é a pessoa estar completamente vermelha, inchada e cheia de comichões. É mesmo limitador, pode retirar muita qualidade de vida.”

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