João Aires e Manuel Antunes são amigos de infância. Sempre viveram nos concelhos de Cascais e Oeiras, respetivamente, e a ligação ao mar começou desde cedo, a praticar surf nas praias da linha de Cascais. A modalidade desportiva não é, porém, a única paixão que os une. Foi o interesse de ambos pela economia circular que os levou a criar a Board Exchange, o “maior armazém de pranchas de surf usadas na região de Lisboa”, situado em São Domingos de Rana.
“Emigrei para o Reino Unido, em março de 2017, e sempre senti muita falta do mar. Sou investidor de capital de risco, trabalho com muitos negócios em áreas ligadas à sustentabilidade e fartei-me de mastigar ideias que me pudessem trazer de volta a Portugal e que estivessem dentro desta linha”, começa por contar Manuel, de 27 anos.
Acabou por encontrar no amigo João, geógrafo de profissão e muito ligado à gestão de recursos humanos e à economia circular, o parceiro ideal para esta aventura. Há muito que se questionavam se não existiria uma solução para a pegada ambiental que causavam cada vez que iam para o mar. A prancha é feita de espuma de poliéster, tem fibra de vidro e ainda leva uma camada de resina: estes elementos são feitos à base de petróleo e não são recicláveis.
“Já andávamos a namorar a ideia desde janeiro e no dia 20 de abril inauguráramos oficialmente o espaço. O processo em si foi muito rápido e a verdade é que, um mês depois, já somos o maior da zona. Penso que se isso se deve ao serviço que conseguimos colocar em prática, pelo facto de termos sido muito bem recebidos pelo público, e também porque conhecemos de raiz toda a indústria e as pessoas que nela se movimentam”, referem.
A escolha da localização baseou-se em dois fatores essenciais: a loja tinha de estar próxima dos surfistas e, ao mesmo tempo, ser acessível. Acabaram por encontrar neste armazém, à entrada de Carcavelos, o espaço ideal.
“Os nossos clientes são aqueles que já fazem surf há algum tempo ou, pelo menos, já fizeram algumas aulas. A nossa maior vantagem é dar-lhes a possibilidade de venderem depressa as suas pranchas e terem uma grande variedade disponível para poderem logo comprar outra. Atualmente temos 110 pranchas em stock, de 38 marcas diferentes”, afirmam.
O objetivo da Board Exchange é, desta forma, conseguir disponibilizar várias opções de escolha a cada surfista. O espaço de 70 metros quadrados está decorado com revistas nacionais e internacionais emolduradas — que João e Manuel colecionam desde os anos 2000 — e pode acolher até 400 pranchas.
“Comprar uma prancha não é como comprar uma camisola. É mais como comprar um fato, ou seja, é necessário experimentar. As medidas são muito importantes e temos de vê-las fisicamente. O peso, a altura, a espessura, são tudo componentes que funcionam de forma diferente consoante o corpo de cada atleta. O que nos acontecia é que quando chegávamos a um armazém só haviam uma ou duas propostas com as características certas para nós. Aqui isso não acontece”, sublinham.
Todo o material é analisado e passa por um processo de classificação relativamente ao estado em que se encontra. As pranchas podem ter marcas de uso, mas não podem ter danos irreparáveis. Existem opções “para toda a gente, dos 80€ aos 500€”.
“Por exemplo, no meu caso, que já tenho alguma prática e o meu corpo já não oscila muito de peso, posso comprar uma prancha mais cara, porque sei que a vou utilizar muitos anos. Já um adolescente que começou a surfar há pouco tempo e ainda bate muitas vezes, ou que esteja em fase de crescimento, provavelmente prefere investir menos porque vai ter de a substituir com mais frequência”, refere Manuel.
O processo de compra é igual ao de qualquer outra loja. E vender é igualmente simples: os fundadores criaram uma plataforma online onde o vendedor se regista e coloca o seu IBAN. Depois, quando o material é vendido, recebe automaticamente a parte dele.
“No fundo, nós queremos dar a oportunidade aos surfistas amadores de terem menos custos e de evoluir mais depressa, porque um bom material também é essencial nisso. Crescemos a ver os profissionais com uma garagem cheia de pranchas e, consoante o clima, escolhiam esta ou aquela. Quem não faz disto vida, é difícil fazer o mesmo, mas com a nossa loja torna-se mais fácil. Pelo mesmo preço, é possível ter três ou quatro pranchas e, ao fim de um tempo, decidir trocar uma delas e investir noutra”, conclui.
Até agora, as visitas ao espaço fazem-se por marcação. Mas o facto de os responsáveis morarem perto, faz com que passem lá muito tempo, tanto durante algumas tardes como ao sábado de manhã. O melhor é entrar em contacto com os responsáveis e acertar um horário.
Feira da Prancha Usada
Para fazer o projeto chegar a um maior número de pessoas, Manuel e João decidiram criar um evento dedicado ao tema que os uniu. Assim, este sábado, 25 de maio, vai realizar-se uma Feira da Prancha Usada, entre as 10 e as 15 horas, no espaço da Board Exchange, no número 171 da Rua Carmo, em São Domingos de Rana.
Os responsáveis garantem que este encontro destinado à compra, venda e troca de pranchas de surf é “o primeiro evento deste tipo em Portugal”. Por lá vai encontrar “o maior stock de pranchas usadas, a preços justos e em bom estado”, reforçam.
O objetivo do dia é o mesmo de todo o projeto: incentivar a economia circular. “Estás há algum tempo para trocar de prancha mas ainda não conseguiste vender a tua para comprar outra? Tens aquela prancha em casa que já não usas e que podia levar caminho? Ou queres simplesmente ver muitas pranchas num só lugar?”.
Seja porque surfar se tem tornado num desporto cada vez mais caro, pelo valor das matérias-primas e pelo processo de produção que continua em grande parte manual, seja porque existe uma pressão cada vez maior à poluição causada pelo fabrico de pranchas, a compra em segunda mão torna-se num caminho mais sustentável (tanto a nível ambiental, como financeiro) para quem é apaixonado por este desporto.
Assim, se quiser comprar ou vender uma prancha durante a feira, deverá inscrever-se online no site do projeto. Pode também seguir a Board Exchange no Instagram para ficar a par das novidades.