“Preciso de ajuda, estou tão cansado. Sinto que não tenho força para nada, já acordei sem energia.” Estas são algumas das queixas que Alexandra Vasconcelos mais ouve nas suas consultas de medicina integrativa, e vindas de pessoas de todas as idades. Começou a perceber que a exaustão e perda de vitalidade são cada vez mais frequentes, com o cansaço a tornar-se uma verdadeira epidemia.
Esta constatação levou a autora de livros como “O Poder do Jejum Intermitente” ou “As Bactérias que nos Curam” a lançar o seu sexto livro — “Energiza-te” — desta vez para explicar que a responsável pelo cansaço e falta de energia pode ter um nome: mitocôndria. Trata-se da parte da célula que funciona como uma central energética, já que transforma os nutrientes e o oxigénio em energia, num processo de respiração celular.
Desempenha um papel importante na regulação da energia indispensável ao funcionamento do organismo. No entanto, mantê-la saudável não é tarefa fácil, já que uma alimentação desequilibrada, noites mal dormidas ou altos níveis de stresse podem afetar as mitocôndrias.
Formada em Ciências Farmacêuticas, Alexandra Vasconcelos, de 59 anos, trabalhou numa farmácia durante 15 anos. E foi o contacto diário com vários tipos de pessoas, com diferentes problemas crónicos, que a inspirou a mudar de vida e a dedicar-se à medicina integrativa, uma abordagem que combina tratamentos convencionais com terapias complementares e alternativas, tendo como foco o corpo, a mente e o espírito, em vez de considerar apenas os sintomas de uma doença.
“O que me atraiu nesta área foi a capacidade de ver a pessoa como um todo e percebi que a abordagem da medicina convencional na doença crónica não era suficiente. Via os doentes que iam à farmácia, ano após ano, com uma prescrição de um novo medicamento, ou com um novo sintoma, mas nunca se atuava na causa, que pode ser algo tão simples como a alimentação ou o estilo de vida.”
Em 2003 acabou por vender a farmácia, fez várias formações em Portugal e no estrangeiro, como um master em medicina integrativa e humanista, em Espanha, e uma pós-graduação em nutrição oncológica na Universidade Católica, antes de abrir, em 2006, a sua própria clínica. E desde 2007 que dirige as áreas de terapias não convencionais das Clínicas Viver, como terapeuta natural integrativa, naturopata e fitoterapeuta.
A importância das mitocôndrias
Há vários anos que a ciência estuda o papel das mitocôndrias no organismo e como o stresse pode interferir no seu normal funcionamento. A Mayo Clinic, nos Estados Unidos, tem mesmo uma Clínica de Doenças Mitocondriais composta por geneticistas, que trabalham em coordenação com várias especialidades e laboratórios de genética.
Alexandra Vasconcelos começou a interessar-se pelo tema devido à quantidade de pessoas que atendia em consulta com as mesmas queixas. “Há dois ou três anos que o cansaço e a fadiga são problemas comuns a muitas pessoas, independentemente da idade, caracterização socioeconómica ou profissional”, explica. “Antigamente falava-se em burnout, mas eram casos em que os níveis de ferro ou a tiroide estavam alterados. No entanto, comecei a perceber que as pessoas estão cansadas, mas têm esses níveis normais, ou vão de férias e voltam cansadas.”
Começou a estudar mais sobre o assunto e quis partilhar o que descobriu. “Percebi que havia algo em comum em todas as pessoas que se sentiam cansadas: uma grande debilidade imunitária. O sistema imunitário está afetado e comecei a estudar o porquê.”
Notou que a forma como vivemos, como comemos e a exposição ao stresse contribuem para debilitar a mitocôndria, “um organito celular onde se produz a energia no corpo e que é altamente afetado pelo meio ambiente”. Ou seja, mantê-la saudável é a chave para aumentar os níveis de energia. Isto porque a transformação dos alimentos que ingerimos em energia é levada a cabo por esta verdadeira fábrica energética da célula.
Sugadores de energia
Apesar de a mitocôndria estar programada para trabalhar de forma eficaz e fornecer energia, caso exista alguma alteração na forma como trabalha, a energia produzida diminui e são vários os seus inimigos. É o caso de vírus, bactérias, fungos ou parasitas, “que vão roubar essa energia. Detetar e eliminar parasitas e desintoxicar é a verdadeira forma de equilibrar o organismo e ganhar energia”, defende Alexandra Vasconcelos.
E dá como exemplo o caso do vírus varicela-zóster (VZV), “um alfa herpesvírus, cuja infeção foi demonstrada que induz inchaço e fragmentação mitocondrial persistente ao longo do tempo”. A autora criou um programa com sete passos, que detalha no livro, para combater o cansaço, aumentar os níveis de energia e recuperar a mitocôndria.
Com uma duração de 14 dias, tudo começa com um primeiro passo que implica eliminar os microrganismos patogénicos e toxinas. Alexandra apresenta uma lista de alimentos que ajudam a eliminar parasitas, como o alho, cujos compostos têm atividade antimicrobiana, o gengibre, que possui propriedades antiparasitárias, ou a pimenta-de-caiena, que contém uma substância denominada capsaicina que pode ajudar a eliminar os parasitas do trato digestivo.
Já o segundo passo implica uma regulação do ciclo circadiano, para corrigir o sono e dormir melhor. “Algumas alterações no estilo de vida, como jejum intermitente, respeitar as horas de deitar e acordar, restringir à noite as atividades cerebrais e cognitivas, ou modular a iluminação do ambiente podem resultar em melhores oscilações na expressão genética do relógio circadiano, que reprogramam uma série de processos fisiológicos e comportamentais.”
O terceiro passo sugere reprogramar o corpo e a mente, com uma alteração do estilo de vida. Além da prática de exercício físico, em especial o treino intermitente de alta intensidade (HIIT) porque consegue os melhores resultados em menos tempo, também é destacada a importância de aprender a reprogramar a respiração para reduzir o stresse.
Os restantes passos incluem tratar o intestino, aprender a comer para ter vitalidade e ganhar energia, saber quais suplementos contribuem para ter uma supermitocôndria e, por fim, aprender a equilibrar as hormonas e os neurotransmissores. O livro termina com um plano de 14 dias “que vai ajudar a energizar o corpo”, com um passo a passo para os vários dias da semana e várias receitas, como batidos energéticos, infusão para eliminar parasitas ou um batido para a mucosa intestinal.
Os truques que podem ajudar
A forma como respiramos “tem um grande poder no controlo dos níveis de ansiedade e, em apenas dez minutos por dia, pode equilibrar o sistema nervoso”, lembra. “Inspire pelo nariz em dois tempos, começando pelo abdómen e depois pelo tórax. Depois expire profundamente pela boca durante o dobro do tempo da inspiração”, recomenda.
Para testar como está a respirar, Alexandra recomenda este teste: “Respire normalmente e conte quantos ciclos de inspiração e expiração faz num minuto. Se fizer menos de 15, está perfeito. Mais de 15 está a hiperventilar e deve tentar trabalhar no sentido de melhorar as respirações”.
A exposição deliberada ao frio é outra ferramenta “para a ativação mitocondrial e promove o aumento da expressão dos genes relacionados com a biogénese da mitocôndria. É um estímulo muito eficaz”, defende. Alguns estudos sugerem que o frio pode ajudar a reduzir a inflamação do corpo, daí que Alexandra recomende um duche frio por dia durante o seu programa.
“Inicie pelos pés e vá molhando as pernas, os braços e depois o resto do corpo. Dia após dia, insista na água fria. Faça, pelo menos, 21 dias seguidos, para que esta prática se torne uma rotina que põe em prática sem esforço e sem pensar.”
O livro “Energiza-te”, publicado pela editora Planeta, tem 357 páginas e custa 15,75€ com um desconto de dez por cento. Sem promoções, o valor passa a 17,50€.