A notícia não era propriamente inesperada, mas foi recebida com surpresa e emoção. Pepe anunciou o final da carreira desportiva, esta quinta-feira, 8 de agosto, num longo e emotivo vídeo no YouTube. “Quero agradecer a Deus por me ter dado sabedoria para poder seguir a minha jornada”, diz o ex-futebolista no depoimento com mais de 30 minutos.
O central português não trouxe a taça, mas fez história, este ano, quando, aos 41 anos, se tornou o jogador mais velho de sempre a jogar num Campeonato Europeu de Futebol. O marco deu-se na partida inaugural de Portugal, contra a Chéquia, a 18 de junho. Nos quartos de final, porém, Portugal foi eliminado pela França, nos penáltis, a 5 de julho.
A estreia do luso-brasileiro num Europeu da Seleção Nacional aconteceu em 2008, quando a seleção nacional acabou eliminada pela Alemanha. A partir daí, teve presença assídua nas edições de 2012, 2016, 2021. Os anos passaram, a equipa foi renovada, assim como os treinadores acabaram substituídos. Kepler Laveran de Lima Ferreira, assim como se chama, manteve-se sempre nas convocatórias e este ano, mostrou continuar totalmente apto aos desafios do relvado.
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Embora a longevidade de Pepe seja um tema sobre o qual se especula há muito tempo, não existe nenhum truque de magia ou ritual obscuro. Em 2021, quando ainda era central do FC Porto, com 38 anos, revelou que apenas se preocupava em “descansar, alimentar e treinar bem”. “São três pilares que me marcam muito”, referiu numa entrevista pós-jogo, à “TNT Sports”.
Outra das obsessões do atletas é evitar a todo o custo a perda da qualidade de massa magra, apostando sempre na regeneração muscular. É aí que entra o consumo de hidratos de carbono — que potencializa a recuperação de toda a energia gasta. Acrescem à dieta os suplementos alimentares e acompanhamento monitorizado dos níveis de esforço através dos GPS usados durante os jogos e treinos, conforme explica o “Observador”. Além disso, a boa genética e forte resistência às lesões levaram-no a manter um nível físico alto até ao final da carreira.
A nível cognitivo, a confiança na própria experiência pode favorecer o desempenho. Ou seja, nos atletas que acreditam estar em forma, pode “nem parecer que são afetados por questões fisiológicas”, explicou o especialista em medicina desportiva, Joao Beckert, citado pelo jornal.
Ao mesmo tempo, Pepe admitiu que não resiste a um doce de açúcar e a cuscuz. Já o mel do sul do Brasil levam-no a ficar “imune a muitas coisas”. Também a carne seca, comum na gastronomia local, passa pelas escolhas habituais do ex-jogador, sobretudo graças à mãe, que, quando o vem visitar, traz as especialidades “escondidas na mala”, revelou, em exclusivo, à “TNT Sports”.
A ligação entre ambos acompanha-o desde sempre. No anúncio do passado dia 8 de agosto, Pepe deixou um agradecimento especial, precisamente à mãe, por o ter “deixado voar” para o seu “sonho que era ser jogador profissional de futebol”.
Quando chegou ao nosso País para representar o Marítimo, aos 18 anos, fez escala em Lisboa, com apenas cinco euros na carteira. Entre gastar os trocos com comida, ou numa chamada para a mãe, optou pela segunda opção. Já o pai, desafiava-o com saltos e corridas dentro de água nas praias brasileiras, durante a infância.
A partir daí rumou até Sporting, onde não foi escolhido para o plantel principal, e seguiu para o FC Porto. Depois de brilhar no Estádio do Dragão, foi vendido para o Real Madrid, clube onde viveu os melhores anos da sua carreira, ao longo de uma década. Mais tarde mudou-se para o Besiktas, na Turquia, e retomou finalmente o seu caminho para o Porto.
O percurso teimou em não acabar cedo, mas o ex-FC Porto sempre teve uma noção clara do que se avizinhava. “É óbvio que a minha carreira está mais próxima do final. É um facto, só que não me passa ainda pela cabeça parar”, disse na mesma entrevista.
Decorridos três anos, o momento chegou. O ponto final dá-se depois de 894 jogos como profissional, e 31 títulos, dos quais nove internacionais.
Além das reações dos fãs, Cristiano Ronaldo deixou uma mensagem ao “irmão” de campo. Companheiro e colega de equipa, de longa data, publicou no Instagram várias fotografias.
“Não existem palavras suficientes para expressar o quanto significas para mim, amigo. Ganhámos tudo o que havia para ganhar em campo, mas a maior conquista é a amizade e o respeito que tenho por ti. És único, meu irmão. Obrigado por tanto”, escreveu na descrição.
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