Um ato de rebeldia ou parte da personalidade? Questões existenciais à parte, fazer uma tatuagem é uma prática cada vez mais comum, mas que suscita questões sobre os seus efeitos no organismo. Um estudo recente alerta para a possibilidade de que a tinta utilizada possa aumentar o risco de desenvolver cancro.
A investigação foi conduzida por investigadores da Universidade do Sul da Dinamarca (SDU) e da Universidade de Helsínquia, e publicada a 1 de fevereiro no jornal “Spring Nature Link”, sob o título “A tatuagem é sobretudo cultural: um estudo representativo de gémeos sobre os determinantes da tatuagem”.
O estudo envolveu mais de 4.000 pares de gémeos dinamarqueses, com o intuito de identificar os principais fatores que influenciam a decisão de fazer uma tatuagem, distinguindo entre influências genéticas e ambientais. A comparação entre os gémeos revelou que a influência genética não é significativa, sugerindo que a tatuagem é um fenómeno predominantemente cultural e social.
No que concerne aos efeitos a longo prazo na saúde, os investigadores alertam para a possibilidade de que a tinta das tatuagens cause uma inflamação crónica dos gânglios linfáticos, com a principal função de filtrar substâncias nocivas para o organismo.
“Podemos ver que as partículas de tinta se acumulam nos gânglios linfáticos e suspeitamos que o corpo as considera como substâncias estranhas. Isto pode significar que o sistema imunitário está constantemente a tentar responder à tinta, e ainda não sabemos se esta tensão persistente pode enfraquecer a função dos gânglios linfáticos ou ter outras consequências para a saúde“, explicou Henrik Frederiksen, professor clínico da Universidade do Sul da Dinamarca.
A inflamação crónica e a ativação constante do sistema imunitário podem danificar as células, levando à mutação de genes e ao desenvolvimento de células cancerígenas, nomeadamente na forma de linfoma. A acumulação gradual de tinta nos gânglios linfáticos pode desencadear este processo, que pode demorar décadas a manifestar-se.
Os resultados do estudo indicam que o tamanho da tatuagem está relacionado com a probabilidade de desenvolver este problema. “Quanto maior a tatuagem e quanto mais tempo ela estiver lá, mais tinta se acumula nos gânglios linfáticos”, afirmou Signe Bedsted Clemmensen, professora da SDU. “No caso do linfoma, a taxa é quase três vezes superior no grupo de indivíduos com tatuagens grandes em comparação com os que não têm tatuagens”, conclui o estudo.