Mariana Soares é uma verdadeira inspiração, tanto para outras pessoas da sua idade, como para os mais novos, que passam os tempos livres ao telemóvel e nas redes sociais. Aos 73 anos, já correu várias maratonas e preparar-se para bater o seu melhor tempo em Espanha, na Maratona de Valência, já no próximo dia 1 de dezembro.
Os treinos são diários, já que não há tempo a perder para descansar, e sente-se bem assim, assegura à NiT, enquanto recorda os dias em que a sua vida mudou. “Tudo começou em 2017 e, nessa altura, não queria correr. Contudo, a minha filha entrou para a equipa Correr Lisboa, em Odivelas, que organizava corridas e caminhadas, e comecei a caminhar.”
Pouco tempo depois, começaram a tentar convencê-la participar nas corridas. “Decidi experimentar e ainda aguentei dois quilómetros a correr, mas depois fiquei cansada”, recorda. “Mas como não sou mulher para desistir assim à primeira, resolvi continuar.”
De 86,5 quilos para 53,5
Os treinos começaram em junho e o primeiro teste a sério surgiu em setembro, na Corrida do Tejo. “Já estava habituada a treinar cinco quilómetros e sentia-me bem, por isso resolvi tentar os 10. Corri até aos oito quilómetros e depois comecei a andar e a correr.”
Em vez de abrandar o ritmo, começou a treinar para a meia maratona da Ponte Vasco da Gama, que completou com 70 anos. “Correu bem, só nos últimos cinco quilómetros é que tive algumas cãibras, mas os bombeiros colocaram-me um spray e aguentei até à Praça do Comércio. Cortei a meta como meia maratonista e fiquei toda contente.”
Além de satisfeita com mais um objetivo alcançado, conseguiu conquistar qualidade de vida. “Quando comecei a correr tinha 86,5 quilos e emagreci aos poucos. Agora peso 53,5 quilos”, revela.
Mas não foi a única conquista. “Tinha o colesterol muito elevado, agora desapareceu. Também sofria de tensão alta e, desde que corro, deixei de tomar medicação. E como me sinto bem, vou continuar.”
Uma influencer à moda antiga
Mariana é a primeira a tentar incentivar as amigas a seguir o seu exemplo. “Estou sempre a dizer para elas esquecerem os problemas, as dores e tudo isso. Eu também tenho dores, não posso dizer o contrário, mas isso fica para trás”, confessa. “Não digo que todos temos de fazer maratonas, mas os cinco quilómetros vocês conseguem, vão ver que melhoram”, diz-lhes.
“Essas dores dos joelhos, das costas, tudo isso vai passar. Estou sempre a dizer-lhes e algumas até já começaram a correr, outras ainda não.” No que toca à saúde mental, também reconhece que a corrida ajudou a aliviar o stresse que sentia na altura.
Treinos diários
Mariana faz parte da Associação Cultura e Recreativa da Mealhada, em Loures, que tem um treinador que orienta os treinos de cada atleta. “Como tenho de treinar mais devido à maratona, ele passa-me o plano de treino e eu sigo sozinha. Mas tenho de correr muito”, sublinha.
“No domingo passado tive de fazer 21 quilómetros, este domingo tenho de fazer a mesma distância porque a prova está aí. É um bocado puxado, mas consigo”, assegura, enquanto partilha o seu segredo, em forma de slogan: “Se eu consigo, vocês também conseguem”.
A Maratona de Valência é a terceira que faz, tendo participado na de Sevilha e Amesterdão, “que foi espetacular. Quando estava nos 40 quilómetros ia muito cansada, mas foi nessa altura que ouvi o meu nome e o fado Menina e Moça, do Carlos do Carmo. Ai que espetáculo, foi maravilhoso. Marcou-me bastante”, recorda.
O objetivo para a prova de Valência passa por melhorar o tempo. “Tendo em conta a minha idade não posso fazer grandes tempos, mas queria chegar em 5h15”. Quando o corpo começa a dar sinais de cansaço, Mariana pensa “já passou mais um quilómetro e mais outro. Entretanto, aparece alguém que dá um incentivo e começo a ganhar mais coragem”, confessa.
Mensagem de incentivo
A única coisa que se arrepende é de não ter começado a correr mais cedo. “Estou muito arrependida. Há uma atleta, a Joaquina Flores, que começou a correr com 50 anos. Ainda hoje, com mais de 80 anos, tenho corrido ao lado dela, subimos as duas aos pódios e arrependo-me de não ter começado mais cedo porque a corrida mudou a minha vida”.
Para quem está a ler o artigo no sofá, Mariana deixa uma mensagem: “a todas as pessoas que se reformam, não fiquem em casa, não fiquem parados, vão fazer pelo menos uma caminhada, nem que seja de meia hora, já é ótimo. Deixem o sofá, desliguem à televisão e pensem mais na saúde”.
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