O romance de estreia de João Pinto Coelho, “Perguntem a Sarah Gross”, lançado em 2015, foi um sucesso imediato. A obra, que tem Auschwitz como cenário, foi finalista do prémio LeYa nesse ano. Porém, o escritor só conquistaria a distinção dois anos depois, em 2017, com “Os Loucos da Rua Mazur” — que também leva os leitores à Polónia da Segunda Guerra Mundial.
Mais tarde, em 2020, publicou “Um Tempo a Fingir”, onde a narrativa se desenrola em Itália, durante o conflito que se prolongou entre 1939 e 1945. As histórias, elogiadas pela riqueza dos detalhes, foram escritas com base nas viagens (e conversas) do escritor aos cenários que descreve.
Nascido em Londres, João Pinto Coelho dedicou mais de três décadas à investigação do Holocausto, colaborando com historiadores e sobreviventes ao genocídio no antigo campo de concentração de Auschwitz. Lembra-se, também, de quando chegou pela primeira vez a Pitigliano, uma cidade italiana com uma importante comunidade judaica, que o inspirou a escrever o romance seguinte.
Agora, quem já leu “Perguntem a Sarah Gross” e “Um Tempo a Fingir” — ou até mesmo quem ainda não teve a oportunidade de o fazer —, vai poder explorar alguns dos cenários que deram vida a cada narrativa dos livros. O escritor vai liderar duas viagens a Itália e à Polónia, inspiradas nas obras que criou, promovidas pelo operador turístico Lusanova.
O circuito “Itália — Biblioteca Toscana” tem partida marcada para 8 de agosto, em Lisboa. A viagem, com a duração de cinco dias, está disponível a partir de 1.650€. Com a mesma duração, o roteiro “Polónia – Auschwitz e Cracóvia”, que explora pontos significativos da herança judaica no país, começa a 18 de agosto e pode ser adquirido por 1.795€. Os valores incluem os voos, a estadia, as refeições e todas as atividades do itinerário.
Estivemos à conversa com o autor para saber mais sobre estas duas aventuras, especialmente concebidas para amantes de viagens em grupo que procuram explorar tradições e culturas singulares.
Como surgiu a ideia de liderar estas duas viagens a Itália e Polónia?
A ideia surgiu como resposta ao desafio que muitos leitores me lançaram após ter publicado o meu primeiro romance, “Perguntem a Sarah Gross”, em 2015.O cenário dessa narrativa é Oswiécim, uma pequena cidade polaca que se tornou universalmente conhecida pelo nome que os alemães lhe atribuíram: Auschwitz.
Muitas pessoas acalentam o desejo de visitar aquele lugar infame, pelo menos uma vez na vida. Cumpri-lo é um ato de lucidez, mas também de coragem. Talvez a cumplicidade com outros leitores possa ser, de alguma maneira, o escudo que procuravam.
Por outro lado, fazê-lo a pretexto de um livro, seguindo os itinerários da história, gera uma intimidade com os cenários da visita que pode ser fascinante.
É a primeira vez que faz algo do género?
Não. Em 2022 fui com um grupo a Auschwitz e a Cracóvia, uma visita organizada em torno do romance “Perguntem a Sarah Gross”. Um ano mais tarde, fomos a Itália, agora para percorrer os lugares de “Um Tempo a Fingir”.
Como escolheu o itinerário?
Entre 2009 e 2011, no âmbito de iniciativas do Conselho da Europa, recebi formação específica na Polónia para preparação de visitas a Cracóvia e aos antigos campos de concentração e extermínio de Auschwitz.
Trabalhei com peritos do Yad Vashem e do Museu Estatal de Auschwitz-Birkenau e, desde então, guiei visitas a esses lugares, seguindo programas por mim desenvolvidos. Essa experiência foi fundamental para o projeto das viagens com os leitores, cujos percursos seguem os itinerários dos romances.
Quais são, para si, os pontos altos do circuito da Itália?
Começaremos pela Roma judaica, no antigo gueto, onde, em 1943, tal como se descreve no romance, os nazis cercaram e prenderam mais de mil judeus, então enviados para Auschwitz. A jornada termina em Florença, mas antes visitaremos a Toscana mais profunda, as paisagens centrais de “Um Tempo a Fingir”, o grande destaque do programa.
É uma viagem ao passado, às cidades medievais de Pitigliano, Sovana e Sorano, e à praia selvagem da Feniglia, lugares que, por algum privilégio extraordinário, escapam à devassa dos turistas, permitindo maior intimidade com as memórias do romance.
E relativamente à Polónia?
Também procurámos ir mais além do que habitualmente se encontra nos circuitos turísticos tradicionais. A par dos lugares obrigatórios, como a Cidade Velha de Cracóvia, o gueto e o bairro judaicos, ou os antigos campos de concentração e extermínio, vamos visitar a Auschwitz desconhecida, a cidade que lhe deu o nome e transformou-se no maior símbolo material do Holocausto.
Sendo o cenário de “Perguntem a Sarah Gross”, é uma visita essencial, bem como o Collegium Novum, onde os oficiais da SS prenderam dezenas de professores, ou mesmo a fábrica de Oskar Schindler.
Antes de escrever as obras “Um Tempo a Fingir” e “Perguntem a Sarah Gross” também visitou os locais que estão no itinerário?
Sim, visitei-os várias vezes. As memórias da Polónia são, compreensivelmente, mais impactantes, sobretudo as dos períodos que passei nos antigos campos de Auschwitz e das conversas que mantive com os seus sobreviventes.
Em Itália foi diferente. Lembro-me do momento em que, à saída de uma curva, em plena floresta toscana, deparei pela primeira vez com Pitigliano, uma cidade no cume de um rochedo. De repente, achei-me num filme medieval, um lugar que, durante séculos, acolheu uma importante comunidade judaica e que testemunhou a sua perseguição durante a ocupação nazi. O cenário pareceu-me tão impressionante que percebi imediatamente ter encontrado o palco para o meu romance seguinte.
Quem leu os livros irá sentir-se como se estivesse dentro das histórias?
Pela experiência das viagens anteriores, sei que é isso que sucede. Qualquer dos dois romances é muito cinematográfico. A narrativa está intimamente ligada aos lugares e às suas descrições. No entanto, nada substitui o cheiro dos olivais ou um pôr do sol na Toscana; o silêncio de Auschwitz pesa mais no lugar original do que nas páginas de um livro.
E aqueles que ainda não os leram, também estão convidados a ir?
Sem dúvida. A experiência será certamente diferente, mas qualquer das viagens segue percursos extraordinários, geografias e testemunhos de um dos períodos mais negros da história da Humanidade que não dependem da leitura de um romance.
O que podem esperar destas viagens?
Depende da pessoa. Como já disse, visitar este pedaço da História é um ato de lucidez e coragem. Acompanho estas visitas há alguns anos e, sei que, perante evocações tão duras, cada um reage à sua maneira.
O único padrão que encontro é o conforto que sentem por estarem inseridas num grupo e com o pano de fundo da literatura. A verdade é que a experiência tem ultrapassado as melhores expectativas — a melhor prova é verificar que a grande maioria dos novos inscritos já participou nas viagens anteriores.
Pensa organizar outras viagens deste género?
Certamente. Além das visitas à Polónia e a Itália, lançámos para o mesmo mês uma viagem literária à Escócia e Inglaterra. Atravessaremos a Grã-Bretanha de Londres a Inverness, nas Terras Altas escocesas, um clube de leitura a bordo de um comboio, seguindo os grandes autores e os grandes romances da literatura britânica. Tal como aconteceu nos anos anteriores, também esta viagem esgotou num ápice, o que nos levou a avançar com uma segunda edição, prevista para o final de agosto de 2024.
Convém acrescentar que o sucesso destas iniciativas se deve, na maioria, ao serviço de excelência da Lusanova. Tanto na organização logística das visitas, como na seleção dos alojamentos e acompanhamento permanente, é caso para dizer que não podíamos desejar melhor parceiro.
Carregue na galeria para ver alguns dos locais que vai conhecer nestas viagens.