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Este bosque encantado é um dos mais belos pedaços de natureza da Península Ibérica

O Parque Natural da Serra de Urbasa-Andía está recheado de lendas e águas azul turquesa. É um destino que vale a pena visitar.
Uma reserva mágica mesmo aqui ao lado.

Sempre que vemos imagens dos mais bonitos recantos do mundo, imaginamos um cenário longínquo, quase inacessível. Nem sempre é o caso. Não muito longe da fronteira, no país vizinho, mora o Parque Natural da Serra de Urbasa-Andía, situado em Navarra, Espanha. É um bosque de beleza incomum, sendo até conhecido como um espaço “encantado”. Tem a vantagem de, quando se fartar da natureza, estar apenas a 1h30 de carro da zona urbana de Bilbao ou a 1h15 de passear por San Sebastián. 

Composto por 21 mil hectares de terreno verdejante — por comparação, o nosso Gerês tem cerca de 60 mil hectares —, é uma área natural protegida da Comunidade Foral de Navarra. A cordilheira de Urbasa é, na verdade, um planalto, com uma altura média de mil metros, que se estende para sul no chamado Monte de las Limitaciones de las Améscoas.

O parque é conhecido pela imensidão de árvores, a começar pelos carvalhos, passando pelas faias, tílias, mas não só. Os numerosos charcos e lagoas, além de acrescentarem uma mística especial ao ambiente, servem também de albergue para vários anfíbios como a salamandra, o tritão-marmoreado ou o sapo-corredor. Quanto às aves, as espécies são imensas, destacando-se o pica-pau-de-dorso-branco, a trepadeira-do-bosque, a águia-real, o abutre e muitos outros nomes que (provavelmente) só os entendidos conhecem. Pelos caminhos, é bem possível que se cruze com javalis, ginetas, o gato-montês, o texugo e o arganaz.

Além da fauna e flora, as suas formações rochosas fazem parte da magia do parque. Os bosques, misturados com os extensos prados, dão origem a formações geográficas impressionantes como o Nacedero do Vale Urederra, onde corre o rio homónimo. Não é por acaso que significa “água bonita”, em basco. Trata-se precisamente de um afluxo que desce por entre rochas calcárias, o que lhe confere uma cor tão azulada. Dá também origem ao percurso pedestre mais popular do parque, com uma extensão de cerca de sete quilómetros. 

Qualquer que seja o roteiro ou miradouro a deslumbrar —  e há muitos —, o mais provável é que haja uma lenda por detrás. Conta-se que na imensidão da serra vivam gigantes que atormentavam os pastores e os habitantes das aldeias vizinhas. Apesar do terror que provocavam, acreditava-se que não tinham um fundo de maldade, limitando-se a conviver com a natureza.

Numa noite de tempestade, as pessoas estavam decididas a por fim àqueles seres. O pai gigante, numa tentativa de salvar o filho pequeno da multidão enraivecida, escondeu-o nas profundezas do bosque. Quando voltou para o ir buscar, já nada se encontrava lá. Diz-se que, desde aí, deambula pela serra com brinquedos dos miúdos do vale, na esperança de o atrair de volta. 

Outras lendas asseguram que há muitos outros personagens do norte peninsular a morar na reserva, como o Basajaun, Mari ou Sugar. Com ou sem criaturas mitológicas, é garantido afirmar que pastores e caçadores habitam por lá há milhares de anos, mantendo-se o pastoreio ativo em pleno século XXI.

Mas, de volta aos trilhos e passeios, garanta que não sai do parque sem ver alguns dos seus melhores locais. O trilho de Morterucho tem 8,8 quilómetros (ida e volta) e leva-o, em cerca de duas horas, a descobrir troncos e rochedos cobertos por um musgo espesso, por vezes junto ao rio, numa simbiose entre magia, natureza e geologia. Importa não esquecer que o passeio pelo “bosque encantado” ganha uma mística única no outono. O verde que habitualmente cobre a serra dá lugar a um manto de tons acastanhados, amarelos e vermelhos, digno de reportagem fotográfica.  

Nos primeiros dois quilómetros, a paisagem é sobretudo labiríntica, mas especial devido às formas diversas dos troncos, ramos e das rochas à mistura. A Faia de Limitaciones é uma das mais populares — tem uma vasta copa arredondada, sete braços impressionantes e raízes que se elevam meio metro acima do solo, dando origem a buracos onde se encontram rãs e tritões. É considerada Monumento Natural e localiza-se na planura de Artziarri, no monte Limitaciones.

Se ainda tiver coragem para subir a serra, o trilho dá seguimento até ao cume de Urbasa. Já consegue imaginar o que vem daí? Sim, é uma incrível vista sobre o vale da Sakana, sobrevoada por aves de rapina. A caverna de Los Cristinos está separada do trilho “encantado” por apenas um quilómetro. A gruta trata-se de uma das mais espetaculares de Espanha, onde se vai deparar com estalactites, colunas e um lago que o deixará sem palavras. Já o Ojo de Iruaitzeta é um caminho por uma formação natural de rochas calcárias que abre uma janela para a paisagem da serra de Urbasa.

Outra das alternativas, passa pela Rota dos Montanhistas, conhecida também como o Caminho do Sal, precisamente porque era utilizada para transportar o mineral entre as Salinas de Oro e Estella, separadas por 20 quilómetros. 

Para terminar — embora este seja um parque natural sem fim — pode subir ao Balcón de Pilatos, no Alto de Urbasa. São 927 metros e, por isso, é expectável que seja considerado o melhor miradouro da reserva. Dali, consegue uma panorâmica imensa do seu redor, inclusive dos sítios históricos das encostas — menires e dolmens, por exemplo, ou a ermita de Santa Marina. 

Será sempre uma visita repleta de histórias seculares, com um toque ancestral mágico e sagrado. Carregue na galeria para o comprovar.

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