A chegada desta época do ano marca também o início das campanhas solidárias que têm como objetivo ajudar as famílias carenciadas a ter um Natal mais especial. Seja em supermercados, nas escolas, nos centros comerciais ou em associações sem fins lucrativos, muitas são as iniciativas que incentivam a comunidade a juntar-se nesta missão. O lanche solidário de Natal da histórica Fundação “O Século” é uma delas.
No dia 7 de dezembro, sábado, entre as 15 e as 18 horas, o refeitório do espaço, em São Pedro do Estoril, vai estar aberto a todos os que queiram passar uma tarde animada, envolvidos pelo espírito da quadra, enquanto ajudam quem mais precisa. Segundo a organização, o dia contará com atividades como pinturas faciais, insufláveis e outros momentos de animação.
A participação tem um custo “simbólico” de 8€ por pessoa. “Todo o valor angariado será destinado às iniciativas solidárias da instituição”, refere a própria. Quem quiser marcar presença, deverá inscrever-se até dia 3 de dezembro, preenchendo um formulário online. Os miúdos até aos seis anos não pagam e os que tiverem entre seis e 12 anos, terão de pagar 4€.
Se estiver a pensar em ir de carro até ao evento, poderá estacioná-lo nas traseiras da Fundação, por apenas 1€. Caso necessite de mais informações, pode contactar a organização através do email comunicacao@nulloseculo.pt.
Aproveite a oportunidade para, além do lanche e da diversão, ficar a conhecer a Fundação O Século, que já conta com quase três décadas de história. A NiC conversou com Mafalda Morgado, membro da administração, que nos levou numa viagem pelos acontecimentos da instituição criada em 1998.
O início da Fundação
A Fundação “O Século” foi pensada com a missão de dar continuidade à obra social do Jornal “O Século”, iniciada em 1927, ano em que foi abriu a Colónia Balnear Infantil, pelo diretor do Jornal, João Pereira da Rosa. Em 1999, a Fundação foi reconhecida como “Fundação de Solidariedade Social”, obtendo o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).
Durante três anos, a atividade principal da instituição foi a colónia de férias, que tão conhecida ficou na zona. “Todos os corredores e todas as alas que existiam no edifício de São Pedro do Estoril tinham colónias de férias. Havia 400 miúdos de cada vez, portanto, faziam-se turnos de 15 dias, nos quais os miúdos ficavam a dormir (em colónia interna) e havia, depois, um conjunto de monitores que acompanhavam o percurso dos grupos”, conta Mafalda, de 49 anos, que se juntou à Fundação no ano 2000.
Na época, Mafalda, que já tinha colaborado pontualmente na colónia de férias, estava pronta para seguir uma carreira na área da saúde, mas decidiu aceitar o convite para se juntar à equipa da Fundação, que também se dedicava a acolher refugiados, vindos de países como Timor-Leste e Kosovo. Na altura, foi criada uma área de acolhimento que é hoje a casa de cerca de 30 ucranianos, que fugiram do seu país durante a guerra.
Foi a partir de 2001 que os responsáveis da Fundação se começaram a dedicar a outras áreas sociais. O primeiro projeto foi “Mudar o Futuro”, como conta Mafalda. “Abrimos um ATL [espaço para atividades de tempos livres], com a ajuda do programa ‘Ser Criança’, que apoiava projetos na área social de intervenção com crianças e jovens em risco. O ATL ainda funcionou durante alguns anos, mas já fechou”.
No final do mesmo ano, a “O Século” inaugurou a “Casa do Mar”, um espaço acolhimento só para raparigas, dos 12 aos 18 anos. Um mês depois, voltou a abrir as portas para receber mais de 30 miúdos da Guiné, resgatados de um mosteiro, em Mafra. “Foi a Segurança Social que nos pediu. Os pais tinham-nos deixado lá porque ouviram dizer que os monges e as freiras que lá viviam tomariam conta deles, enquanto eles tentavam estabelecer-se em Portugal. Mais tarde, descobriram que os miúdos que viviam no mosteiro estavam a fazer o mesmo voto de pobreza que os próprios monges e freiras”, conta.
Já em 2003, a Fundação abriu a creche pré-escolar e, a partir daí, foram dando resposta às necessidades, não só do concelho, como também a nível distrital, através da Segurança Social. Apesar da grande ligação aos miúdos, que marcou o início do caminho d’“O Século”, atualmente, a instituição dedica-se também a outras áreas.
Apoio domiciliário, cantinas sociais e outros projetos
Para fazer face às necessidades alimentares dos moradores do concelho, a Câmara Municipal de Cascais pediu ajuda à aos responsáveis pela Fundação “O Século”. “Falaram connosco porque tínhamos uma cozinha industrial, que podia confecionar muitos pratos ao mesmo tempo. Neste momento, preparamos perto de 500 refeições por dia, que passam a ser mais na altura da Colónia de Férias”.
Do pedido de ajuda por parte da Câmara, surgiu uma parceria, para garantir o apoio aos mais necessitados. “Assinámos um acordo e criámos um programa de apoio alimentar para os idosos e outras pessoas que estão em casa, em situação de dependência. Vamos a casa deles distribuir refeições já confecionadas”. Os membros da Fundação perceberam que “as necessidades destes utentes iam para além da alimentação”, e tornaram o apoio domiciliar mais abrangente. Quando a Segurança Social criou o plano de emergência alimentar, nasceu um novo protocolo. “Passámos a ter cantinas sociais e algumas pessoas começaram a dirigir-se à instituição para irem buscar as refeições já confecionadas”, conta Mafalda.
“Tínhamos muitos miúdos, muitos jovens que cresciam nas nossas casas de acolhimento e que chegavam a um ponto no qual já não fazia muito sentido permanecerem lá, depois de atingirem os 18 anos, ou quando manifestavam o desejo de ir para a faculdade”, explica. Foi a pensar neles que a Fundação criou os apartamentos de autonomização, onde moram, atualmente, dez pessoas. “Neste momento, temos três apartamentos, dois em Oeiras, cedidos pela Câmara de Oeiras, e um aqui em Cascais, na zona da Parede, e conseguimos o acordo de cooperação”. Os jovens que se inserem, diretamente, na comunidade, contam com o acompanhamento do Centro de Autonomia Supervisionada (CAIS), criado pela instituição.
Também foi criada uma divisão de aconselhamento parental, que trabalha com miúdos e jovens em perigo, para tentar “evitar que os jovens sejam retirados às suas famílias”. Depois, “temos uma área muito recente, que é o acolhimento familiar, onde estamos a sensibilizar toda a comunidade, tentando angariar pessoas interessadas em ser família de acolhimento e dar uma atenção mais personalizada, especialmente aos miúdos e aos bebés”, refere a responsável.
Dedicada a melhorar a vida dos outros, a instituição foi passando por algumas dificuldades. Desde o fecho da Feira Popular, que era, na altura, “o principal financiador” da Fundação, até à “má gestão” dos fundos da “O Século” que levou à “acumulação de dívidas”, o caminho foi feito de altos e baixos, mas o futuro está, para já, “garantido”.
Uma das medidas tomadas para assegurar a sobrevivência foi a criação de empresas sociais, ligadas ao turismo. “Temos quartos que estão disponíveis para arrendamento, em todas as plataformas turísticas, no booking e noutras”, revela Mafalda, acrescentando que a instituição investiu num “projeto na Ericeira, exatamente com o mesmo objetivo. Neste caso, trata-se de uma unidade hoteleira, cuja receita servirá para conseguir suprir aquilo que são as necessidades da obra social da Fundação”.
A instituição conta, ainda, com patrocínios e donativos, organiza festas e aluga o auditório, para angariar fundos.
Carregue na galeria e veja imagens da evolução das colónias de férias ao longo dos anos.