A pitoresca moradia, com beirais amarelos e portões azuis, onde Margarida Alberty viveu e instalou a Escola de Línguas do Estoril, não passa despercebida. Situada na Avenida de Portugal, ali funcionou aquela que ficaria conhecida na vila como Margarida’s School, um espaço de aprendizagem onde a personalidade e a pedagogia da fundadora se confundiam.
Mais tarde, a casa acolheu também o atelier de Margarida Alberty, entretanto transformado num novo espaço. A Vila Criativa, assim se chama, é fruto do trabalho de Piedade Rodrigues, de 50 anos, e da sua equipa, carinhosamente apelidada de “As Margaridas”.
A Vila Criativa abriu portas a 15 de março, com a missão de oferecer “um ambiente onde a criatividade e a inovação se entrelaçam com a história e a tradição”. Trata-se de um espaço dinâmico onde todos podem explorar o seu próprio processo criativo através de diversas manifestações artísticas.
O propósito é estimular a imaginação e o desenvolvimento de habilidades manuais, disponibilizando uma variedade de oficinas criativas diárias, que vão desde pintura e costura, a atividades interativas, como a música.
As primeiras salas da Vila Criativa prestam homenagem ao legado artístico de Alberty. Cada objeto exposto é considerado uma extensão da criatividade de Margarida e das suas memórias no Camboja, país com o qual sempre manteve uma forte ligação devido ao seu trabalho de voluntariado. Há máscaras, fitas e estátuas nas paredes, e pequenas máquinas de costura distribuídas pelo espaço. Em redor, caixas de madeira repletas de botões de diversas formas e cores.
“Cada botão tem uma história. Esta sala não é apenas um espaço de trabalho, mas um santuário onde cada detalhe fala de beleza, dedicação e da arte intemporal de criar“, confessa Piedade. Com um ambiente artesanal e acolhedor, onde cada trabalho é cosido com memórias, a sala de costura “é mais do que isso; é um refúgio de afeto, arte e inspiração”, sublinha.
“Ainda estamos a aperfeiçoar alguns espaços”, acrescenta Piedade, sublinhando que o projeto está em permanente evolução. Entre as várias atrações, destaca-se uma coleção de brinquedos antigos e um “mini museu” com bonecas e outros objetos, que evocam tempos passados. “Temos o triciclo da proprietária, que tem agora 70 anos, assim como outros brinquedos da época em que ela aqui morava”, revela.
Além do atelier, a Vila Criativa inclui um espaço especial para os miúdos, a Toy Factory. Esta sala foi idealizada por Margarida, parceira do projeto, com o intuito de encorajar os mais novos a não só brincar, mas também a construir os próprios brinquedos. “Aqui, podem pôr as mãos na massa, não apenas a brincar com os brinquedos, mas também a montá-los”, esclarece Piedade.
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As atividades utilizam materiais recicláveis e promovem a criatividade através dos trabalhos manuais, misturando o antigo e o moderno. “Temos também uma coleção de jogos antigos para estimular os pequenos artistas a brincarem de uma maneira diferente. Geralmente damos uma temática e eles criam uma história com base no que montaram, dando um novo significado a um brinquedo que iria para o lixo.”
O espaço não segue uma pedagogia rígida, mas sim um modelo onde a imaginação é incentivada. “Estamos aqui para orientar, mas os miúdos vêm para se divertir, conhecer coisas novas e aprender a brincar”, afirma Piedade. Além disso, a Vila Criativa oferece um contacto direto com a natureza. “Temos aqui uma pequena quinta. Os miúdos entram e ficam maravilhados ao ver um pavão, uma galinha e um pato. O intuito é que eles se conectem com os animais e com a natureza.”
Outro ponto forte da Vila Criativa é a sua abordagem sustentável. “O jardim ensinou-me muito sobre a resistência nesta sociedade descartável. Aqui encontram-se peças que seriam rejeitadas, mas que ganharam uma nova vida através da arte. Recriámos objetos, dando-lhes um novo significado e uma mensagem bonita.”
Mais do que uma área de lazer, o jardim é um ponto de encontro para a comunidade. “Aqui, pais e filhos podem relaxar entre atividades. É um espaço onde se realizam festas de aniversário, apresentações de artistas e encontros culturais. Tivemos um evento em que a professora de música tocou enquanto as crianças e os pais desfrutavam do sol. Foi exatamente essa a nossa intenção: trazer as pessoas para cá e fazer com que se sintam parte do espaço”, conta à NiC.
O projeto procura unir diferentes gerações num ambiente acolhedor. “Achamos que hoje em dia os espaços estão muito separados. Este lugar é para todos: adultos, miúdos e para a comunidade. É um espaço de luz, onde tudo pode acontecer”, revela.
A programação inclui atividades regulares para os mais novos e adultos. A Vila Criativa tem também um espaço de coworking dedicado aos pais que precisam de um local para trabalhar enquanto os filhos participam nas atividades. “Temos também o after school, para apoiar aqueles que trabalham até mais tarde. Os miúdos podem ficar aqui até às 19 horas, e se houver necessidade, ajustamos os horários.” Os preços variam conforme o tempo de permanência: 15€ (uma hora), 24€ (duas horas)e 34€ (três horas incluindo as horas subsequentes).
As oficinas integrativas não têm limites de idade, pessoas de todas as faixas etárias podem participar. As atividades têm duração de 1h30 a duas horas e custam 25€ por participante. Para quem deseja partilhar momentos especiais em família, existem oficinas especiais todos os fins de semana. As atividades incluem macramê, música, fabricação de brinquedos, pintura e vinho (reservado a adultos). As sessões custam 35€ (um miúdo e um adulto) e 45€ (dois adultos e dois miúdos), ambas com com duração de duas horas.
Os planos vão continuar a crescer. “No futuro, a Vila Criativa terá um café”, avança Piedade, reforçando que este é um projeto em evolução, sempre para proporcionar momentos de lazer, arte e conexão entre pessoas. Inicialmente projetado para miúdos, o projeto “terá sempre lugar para todas as idades”. A Vila Criativa está aberta todos os dias, das 9h30 às 19 horas. As inscrições para as atividades são feitas feitas pelo Instagram do projeto.
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