João Primaz tinha 12 anos quando saiu da escola à hora de almoço para passear pelas ruas de Cascais com um grupo de amigos. Nesse dia, deparou-se com uma fábrica abandonada e a curiosidade falou mais alto. Decidiu entrar com os colegas e explorar cada centímetro do espaço, acabando por descobrir um hobby que o acompanharia até aos dias de hoje.
“Foi um sentimento muito interessante, porque na altura eu tive medo, depois senti adrenalina e, por fim, liberdade, porque como aquilo estava realmente abandonado, podíamos fazer tecnicamente ‘tudo’ o que quiséssemos”, começa por contar à NiC o jovem de 19 anos. “Não estava lá ninguém para nos observar.”
Nessa altura, era o único do grupo de amigos que não tinha autorização para sair sozinho. E, neste dia, quando conseguiu fugir da escola para andar com os colegas, conseguiu sentir liberdade pela primeira vez. “Desde então que sempre me atraí muito por locais abandonados”, confessa. “Sempre que podia, naquela época, saia com os meus amigos. Claro que explorávamos com pouca regularidade, porque ainda não podia sair muito de casa.”
Foi também nestas primeiras experiências que o jovem apanhou um grande susto. Aos 13 anos, decidiu explorar uma das quatro casas abandonadas perto do local onde vivia, também com alguns amigos. Quando entrou através de um buraco na porta, viu uma tenda junto às escadas e decidiu perguntar se estava ali alguém. Ninguém respondeu e João decidiu explorar a propriedade na mesma.
“Quando já estou a subir as escadas, escuto uma voz super grossa e alta a dizer ‘Quem está aí’?”, recorda. “Eu e os meus amigos começámos a correr e a gritar, e o sem abrigo deve ter-se irritado com isso e saiu a correr atrás de nós. A visão que ainda hoje tenho é de estar a correr, super assustado, mesmo como se fosse morrer.”
O jovem acrescenta: “Quando olhei para trás, vi um homem a sair do buraco da porta com uma barba gigante. Corri pela vida e quando cheguei ao muro que tinha para saltar para sair dali, não consegui porque era pequeno demais e na altura não pensava nesses perigos. O homem, entretanto, desistiu e consegui sair com calma. Hoje, se vejo uma tenda, não me atrevo a entrar.”

Ao longo dos anos e à medida que foi ficando mais velho, o João deixou de ter de sair às escondidas. O próprio pai começou a juntar-se às aventuras. “Houve uma altura que estava no telemóvel e comecei a ver vídeos e fotos na Internet de lugares abandonados. Até que me deparei com umas filmagens de um hospital em Vila Franca de Xira, que foi deixado com todo o material hospitalar no seu interior. Perguntei ao meu pai se ele não queria ir comigo e fomos até lá.”
Pela primeira vez, o João teve contacto com um sítio abandonado que estava conservado. “Foi a loucura porque até então, só tinha ido a fábricas e casas que estavam completamente vandalizadas. Comecei a descobrir que havia muito mais para além disso, como casas, hospitais, cinemas e hotéis, com tudo no seu interior. Para mim, é uma sensação de liberdade única, que não consigo sequer descrever como é que é.”
Mais tarde, o estudante comprou uma câmara para tirar imagens profissionais dos locais que visitava. A primeira propriedade que fotografou foi uma casa abandonada no Estoril há várias décadas, onde esteve também com o pai.
“Diziam que pertencia a um nazi de uma das guerras mundiais. Entretanto, a casa foi vendida a um casal português e supostamente a mulher do senhor suicidou-se. Desde então, ficou abandonada”, recorda. “Enquanto estávamos lá a explorar, ouvíamos vários barulhos e ficamos com medo porque não estava mesmo lá ninguém.”
Em 2023, teve também uma experiência assustadora noutra residência, desta vez no norte do Pais. “A casa tinha tudo no seu interior, estava completamente intacta”, sublinha. “Não sou dessas coisas de espiritualidade, mas não senti uma energia muito boa quando entrei. Lembro-me depois da viagem, passei um mês a sentir-me super depressivo e na altura, só me vinha à cabeça essa casa. Acho que pode ter alguma ligação.”
Além de Portugal, também visita sítios em outros países, como Espanha. João vai sempre acompanhado com um amigo e para encontrar lugares poucos comuns, explora o Google Maps de ponta à ponta, focando sempre em locais afastados e com vestígios do passado. O jovem está também à procura de uma oportunidade para expor as imagens que tira. Pode acompanhar as aventuras no Instagram.
Carregue na galeria para conhecer alguns dos lugares já visitados por João.