Desde sempre que Adalberto Brito revelou uma forte veia artística. “Nunca foi um hobbie, era mesmo uma paixão”, começa por contar o artista, de 51 anos. Desde que se lembra, passava as tardes a pintar e a desenhar. Nessa altura, a mãe era auxiliar de educação e, talvez por isso, a criatividade sempre foi uma caraterística incentivada em casa.
“Os meus pais sempre nos deram muita liberdade para fazermos e sermos o que quiséssemos, mas sempre na base da educação e muito respeito. Por isso, pintava muito nas paredes do meu quarto e foi uma paixão que foi crescendo aos poucos”.
Ainda assim, a sua carreira nem sempre esteve rodeada de tintas e pinceis. Em 1994, Adalberto cumpriu o serviço militar e esteve na Marinha durante 10 anos. Depois, passou por uma gráfica, onde permaneceu outros 10. Foi apenas em 2014 que começou a viver da sua arte. Agora, é conhecido nas ruas pelo nome artístico YouthOne.
“A paixão pelo grafitti veio dos Estados Unidos. Em 1984, houve uma grande explosão da cultura do breakdance em Portugal, foi um movimento que juntou pessoas de todas as classes e nacionalidades. Aos poucos, a cultura do hip-hop foi-se enraizando e lembro-me que perdia horas a ver os videoclipes nas cassetes, onde grafitavam a cara dos músicos nas paredes. Repetia-os várias vezes até conseguir aprender as suas técnicas”.
Adalberto acredita ainda que o facto de ser africano ajudou a despertar esta paixão, que surgiu numa comunidade mais próxima, o que fez com que sentisse que pertencia a um grupo. “Os meus irmãos mais velhos foram uma forte influência. Na altura, tinham uma equipa de breakdance”.
Durante o percurso de descoberta, Adalberto mudou-se de Tires para Carcavelos, onde encontrou um grupo de jovens artistas igualmente apaixonados pela mesma arte. “Foi na Escola de Carcavelos que dei os primeiros passos. Nos anos 90 começou a ser permitido pintar no mural. Esse é o mural mais antigo do País que recebeu vários artistas de renome”.
Agora, muitos anos mais tarde, YouthOne regressou às suas origens, a pintar o mural dos Jardins de Parede. “O projeto de reabilitação através da arte nasceu em 2015, sendo que Carcavelos é o berço do grafitti nacional, só varia sentido implementar a arte urbana”.
Há cerca de cinco anos, a União das Freguesias de Carcavelos e Parede decidiu dar continuidade a esta ideia. “O conceito é pegar em espaços abandonados ou vandalizados e dar-lhes uma nova cor”.
O convite por parte da Junta surgiu há algum tempo e Adalberto acredita que se deve à sua experiência. Hoje, é possível encontrar a sua arte no viaduto de Carnaxide e junto à praia de Paço de Arcos. Este ano, recebeu o convite para pintar o mural dos Jardins de Parede.
“Queria trazer um pouco da vida que se encontra aqui para o mural. Temos várias flores e árvores, mas como esta zona não vive só de vegetação, acrescentei várias personagens”. Os surfistas que passam todos os dias equipados, ou até mesmo os idosos que jogam no jardim, estão eternizados na pintura.
“Gosto de acrescentar um pouco de sátira, neste caso encontra-se no contraste entre pessoas bem e mal dispostas. Há também crianças, por haver uma creche aqui perto. Tentei ao máximo representar a vida que passa por este túnel todos os dias”.
Embora a pintura ainda não esteja concluída, o feedback tem sido muito positivo. “Há pessoas que nem se apercebem, enquanto outras gostam de deixar o seu testemunho e dizer que está muito bonito”.
Carregue na galeria para conhecer o novo mural nos Jardins de Parede.

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