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O encontro clandestino em Cascais que reforçou a organização da Revolução foi há 50 anos

Nesta terça-feira, 5 de março, celebra-se meio século da reunião onde os Capitães assumem o golpe de Estado como irreversível.
5 de março de 1974 ficou marcado na História.

No dia 5 de março de 1974 — faltavam 51 dias para fim do regime — realizou-se, em Cascais, um encontro de capitães, no qual se assumiu como irreversível a opção pelo golpe de Estado. Na reunião, os militares determinaram um reforço da organização do Movimento, assente em pontos essenciais para avançar com a revolução, que aconteceria a 25 de Abril. Ali foram acionados mecanismos para concluir um programa político que sintetizasse os seus objetivos fundamentais, como refere a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril. 

No dia em que se assinalam exatamente cinco décadas sobre a reunião de Cascais, vão ser inauguradas duas peças que integram o projeto artístico “Girândolas de Luz”, da autoria de Catherine da Silva. Serão colocadas em locais do concelho, onde decorreram estes encontros, essenciais no caminho para a Liberdade. Com o objetivo de promover e preservar esta memória, as obras pretendem homenagear um pedaço de História que ali foi vivido. 

As Girândolas relembram a forma dos cravos que deram nome à Revolução e têm entre 3 e 3,5 metros. A primeira peça vai assinalar o local onde se realizou a reunião, simbolicamente, no número 13 da Rua Visconde Luz, em Cascais, com inauguração marcada para as 11 horas.

A segunda, apresentada ao meio-dia, marca o local onde aconteceu outra relevante reunião do Movimento dos Capitães no concelho de Cascais. Uns meses antes, a 24 de novembro de 1973, reuniram-se na residência da família Fonseca Ribeiro, em São Pedro do Estoril (perto do local onde hoje se situa o restaurante “O Mira”).

50 anos depois

Sabemos hoje que o encontro clandestino foi combinado com elevadas preocupações de segurança. Os cerca de 200 homens (em representação de mais de 600), que estariam presentes, foram convocados para 18 cafés ou pastelarias em Lisboa, onde teriam de esperar por um elemento que os encaminhasse para o local da sessão.

O plano inicial era realizar a reunião no edifício Franjinhas, no cruzamento das ruas Castilho e Braamcamp, mas é alterado, nesse mesmo dia: o destino acabaria por ser o primeiro andar do número 45 da rua Visconde Luz, em Cascais, no atelier do arquiteto Braula Reis. Nesse pequeno espaço, cumpre-se uma etapa determinante na história do Movimento dos Capitães e para o sucesso da “Operação Viragem Histórica”, que 51 dias depois derrubaria uma ditadura que durava há quase meio século.

Durante o encontro, é aprovado pela maioria dos presentes (111) o documento de síntese “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação”. Este é o primeiro projeto político dos Capitães, fundamental para definir os seus objetivos. Fica patente a intenção do Movimento de democratizar o País e dá-se aqui a passagem do Movimento dos Capitães a Movimento das Força Armadas (MFA).

Os Capitães decidem delegar em Melo Antunes a responsabilidade de presidir e coordenar a comissão de elaboração do Programa. No mesmo encontro realiza-se uma nova votação sobre os futuros chefes do Movimento, num escrutínio mais uma vez ganho por Francisco da Costa Gomes, então Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. 

A iniciativa tem organização conjunta com a Associação 25 de Abril e a Câmara Municipal de Cascais. No local vão estar presentes o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras, o presidente da Direção da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, a Comissária Executiva da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Maria Inácia Rezola. 

“Num momento em que a democracia portuguesa cumpre 50 anos e o País se mobiliza para celebrar, com entusiasmo e orgulho, o seu momento fundador, é fundamental recordar o determinante contributo do encontro de Cascais para o 25 de Abril de 1974. As comemorações permitem-nos rememorar criticamente datas e acontecimentos, figuras e processos, celebrando a história e um futuro que todos queremos mais justo e participado. Conhecer o passado permite-nos valorizar as conquistas de Abril e combater a indiferença e o esquecimento, nomeadamente junto das gerações que já nasceram em Liberdade”, afirma Maria Inácia Rezola.

Vasco Lourenço, presidente da Direção da Associação 25 de Abril, refere: “Na reunião de 5 de março de 1974, em Cascais, decidimos avançar para uma ação de força, de derrube da ditadura, elaborar um programa político, que definisse as linhas do futuro regime; confirmámos a escolha de Francisco da Costa Gomes e de António de Spínola para futuros chefes, desde que aceitassem o programa do Movimento, e demos um voto de confiança à Comissão Coordenadora à respetiva Direção para executarem as decisões aprovadas. Foram resultados francamente preciosos para a evolução do caminhar para a Libertação.”

Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, salienta: “Há 50 anos unimo-nos e vencemos um regime não democrático. A celebração do 25 de Abril em Cascais é uma afirmação de princípios. É a afirmação de uma democracia forte. Honrar Abril é lembrar e admirar aqueles homens e mulheres que nos libertaram da servidão para nos dar a liberdade plena. É agradecer aos vários homens que estiveram na linha da frente, os Capitães de Abril, que, com coragem, fizeram a única Revolução do mundo sem sangue, substituindo as armas por flores: os nossos cravos. Lutemos, hoje mais do que nunca, por uma Democracia sem amos. Aqui, nesta nossa Vila de Cascais, também é o povo quem mais ordena”.

As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até 2026. De acordo com a organização, cada ano foca-se num tema, com o objetivo de “reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia”. Em 2024, os três “D” do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) começam a ser revisitados, em iniciativas que evocam o processo de descolonização, democratização e desenvolvimento.

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