na cidade

Reabilitação do palacete Chalet Ficalho vence Prémio Vilalva da Gulbenkian

Projeto de restauro do edifício centenário em Cascais distingue-se pelo "profundo respeito pela traça original".
Fica em Cascais.

Abriu ao público a 22 de julho e já começou a conquistar prémios. O projeto de reabilitação do Chalet Ficalho, o emblemático palacete de Cascais que transformado numa guest house, foi distinguido, por unanimidade, com o Prémio Gulbenkian Património ‒ Maria Tereza e Vasco Vilalva de 2023, entregue em setembro, pela Fundação Calouste Gulbenkian.

A distinção é atribuída a projetos de excelência na área da conservação, recuperação, valorização ou divulgação do património português, imóvel e móvel. O júri justificou a decisão com “a importância patrimonial do edifício enquanto expoente de um estilo arquitetónico hoje destruído na maioria das zonas balneares do País, pelo caráter modelar do respeito pelas técnicas e materiais originais no projeto de recuperação e pelo equilíbrio exemplar entre a preservação do conjunto e a sua adequação à sua nova função como equipamento hoteleiro”.

O projeto distingue-se pelo “profundo respeito pela traça original, que implicou o recurso exemplar a técnicas e saberes artesanais tradicionais no trabalho das madeiras e da pedra”. Outro dos motivos foi o facto de o edifício estar num pequeno parque com espécies arbóreas exóticas — o pai da condessa de Ficalho foi um dos fundadores do Jardim Botânico de Lisboa — que foi recuperado com “grande preocupação de fidelidade ao projeto paisagístico inicial”. 

No âmbito do Prémio Gulbenkian Património ‒ Maria Tereza e Vasco Vilalva foram ainda atribuídas duas menções honrosas: uma ao Edifício das Águas Livres e outra às Casas Nobres de João Pereira e Sousa, ambos em Lisboa.

A história do Chalet Ficalho

O edifício foi mandado construir em 1887 por António Máximo da Costa e Silva, barão e visconde de Ovar, e a mulher Maria Josefa de Mello, futura condessa de Ficalho. A filha do casal, Helena Mello da Costa, sofria de problemas respiratórios — e o médico tinha-lhe receitado ar do mar. Neste contexto, fez um pedido aos responsáveis da vila “desejando construir uma propriedade num terreno que possuía nesta vila”.

O pedido foi aprovado e as obras de construção arrancaram no início de 1898. O quarteirão do clube da Parada, o local onde a família real passava os dias em jogos e outras atividades, foi o escolhido para implantar o edifício.

Os telhados de forte inclinação cinzento-esverdeados, as janelas altas, as portadas vermelhas e o jardim botânico com espécies exóticas ainda hoje se destacam na região. “O jardim foi desenhado pelo pai da condessa de Ficalho, um grande botânico que foi também um dos fundadores do Jardim Botânico de Lisboa”, conta Maria Chaves, herdeira da casa.

Após quase dois anos de obras, o Chalet Costa e Silva — nome dado na altura — ficou finalmente concluído. A inauguração aconteceu a 21 de outubro de 1898 e foi um dia memorável: “Houve guitarradas, coros, descantes e o belo fadinho, cantado com sentimento”, escreveu o “Diário Ilustrado” na altura.

“A casa foi passando de geração em gerações até chegar à minha. Viveram-se aqui muitas histórias, guardámos muitas recordações e é um sítio muito estimado por todos”, revela Maria Chaves, de 70 anos, que faz parte da quarta geração da família e acabou por herdar a propriedade. 

Devido à dimensão do edifício, tornou-se “muito difícil conservar a casa”, que já precisava de uma enorme recuperação. “Podia ter sido mais fácil vender, mas não era realmente isso que queríamos. Decidimos manter a casa e, para a rentabilizar, abrir como guest house”, explica. 

As obras começaram há cerca de dois anos, após ter sido aprovado o projeto de arquitetura de alteração e ampliação do edificado. O arquiteto Raúl Vieira, foi o responsável pela adaptação do chalet a alojamento local. As características principais, tanto interiores e exteriores, mantiveram-se, apesar do “trabalho de restauro muito profundo”, que se estendeu às madeiras e aos móveis.  Os azulejos, o chão, as pinturas, os vidros, as portadas, os lustres e as peças de mobiliário foram todas restauradas. Outras, como os sofás, ganharam réplicas.

O Chalet Ficalho abriu a 22 de julho. O edifício de três andares é composto por nove quartos, todos com uma casa de banho privativa, e várias salas espalhadas pelos andares, cujo acesso é feito a partir de uma enorme escadaria ou do novo elevado. 

O hall enorme, encaminha os hóspedes para várias divisões: a sala de estar com lareira, apelidada sala comprida; a sala redonda; um escritório; e a sala de jantar, com uma extensa mesa. A grande novidade encontra-se no exterior, onde poderá encontrar uma piscina. Foi construída no jardim que, em tempos, era conhecido como “o jardim das palmeiras”. Os preços começam nos 225€ por noite.

A seguir, carregue na galeria para ficar a conhecer melhor o renovado Chalet Ficalho. 

MAIS HISTÓRIAS DE CASCAIS

AGENDA