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Rota Casas de Abril: conheça os locais de resistência e liberdade no concelho Cascais

Neste percurso, poderá conhecer os espaços onde se encontravam casas clandestinas, importantes na luta conta a ditadura.
S. João do Estoril. Imagem: CMC, 1960

Apesar de Lisboa ter sido o epicentro da ação que resultou na Revolução dos Cravos, houve outros locais no País fundamentais para o caminho percorrido até se chegar ao dia 25 de abril de 1974. Cascais foi um deles. Desde os encontros clandestinos para preparar o golpe de Estado, como a NiC lhe contou neste artigo, às casas que acolheram os opositores do regime ditatorial, são muitos os espaços emblemáticos ficaram para a história.

“Cascais assumiu-se como lugar de refúgio ou de exílio para homens e mulheres, das mais diferentes origens, que ousaram pensar e/ou viver de forma diferente”, refere a Câmara Municipal de Cascais. “Em meados do século XX, quando todos os ativistas de esquerda eram perseguidos pela polícia política do Estado Novo, o concelho assistiu à organização de uma rede de casas clandestinas do Partido Comunista Português, onde se organizaram reuniões históricas, gizaram ousados planos e abrigaram os mais destacados militantes”, refere. 

Por exemplo, foi no Monte Estoril que se realizou, em novembro 1943, o terceiro congresso do PCP (o primeiro desde que fora remetido à clandestinidade), no qual o seu líder, Álvaro Cunhal, defenderia A Unidade da Nação Portuguesa na Luta pelo Pão, pela Liberdade e pela Independência. Mais tarde, em 1957, o quinto congresso decorreu na Casa dos Cedros, em S. João do Estoril, onde foram aprovados os primeiros estatutos do partido.

Estes são exemplos de encontros que o concelho de Cascais acolheu, durante várias décadas, das forças que lutavam contra o regime, como aconteceu também com o Movimento das Forças Armadas, ao qual se deve o fim da ditadura. Foi nesta pacata vila à beira-mar plantada que os Capitães de Abril realizaram alguns encontros e assentaram algumas das suas bases de logísticas, nos meses que antecederam a revolução.

Se fica curioso para conhecer estes locais, saiba que pode fazê-lo, seguindo a Rota das Casas de Abril, organizada pela Câmara Municipal de Cascais. Este é um percurso que pretende dar a conhecer a história de nove locais que marcaram a resistência ao Estado Novo, de 1943 a 1974. De Cascais à Parede, a rota faz-se ao longo de 12,5 quilómetros (aconselhamos a percorrê-la de carro), num percurso que demora cerca de 2h30 a visitar.

Começa em Cascais, no local onde, em tempos, existiu a casa (já demolida) de Octávio Pato, membro do Comité Central do PCP, “onde decorreram as reuniões preparatórias da mais mediática evasão coletiva de presos políticos em Portugal: a fuga do Forte de Peniche, a 3 de janeiro de 1960, de Álvaro Cunhal, Francisco Miguel, Guilherme de Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes e Pedro Soares, membros do Comité Central”, refere a autarquia. 

Imagem: Câmara Municipal de Cascais

Em Cascais, encontra também no número 13 da Rua Visconde da Luz, a casa onde se realizou a reunião clandestina do Movimento das Forças Armadas, a 5 de março de 1954, 51 dias antes da revolução, no atelier do arquiteto Braula Reis. O percurso segue depois para a Vila Arriaga, no Monte Estoril, onde decorreu o famoso terceiro congresso do PCP, o primeiro na clandestinidade, de 10 a 13 de novembro de 1943.

No Estoril, a quarta paragem da rota acontece num espaço onde existia a casa que abrigou, em 1946, uma reunião da organização política clandestina MUNAF — Movimento de Unidade Nacional Antifascista. Já na Galiza, vai encontrar a Casa dos Cedros, onde se realizou, em setembro de 1957, o quinto congresso do PCP, que aprovou o seu programa e estatutos. Em S. João do Estoril, pode conhecer o sítio onde se encontrava a Vivenda Montalvinho, casa já demolida, onde se refugiou Pires Jorge, um dos orquestradores da célebre Fuga de Peniche, a 3 de janeiro de 1960, bem como Álvaro Cunhal e Jaime Serra. 

A sétima paragem faz-se em S. Pedro do Estoril, numa casa onde no final de 1952, o PCP promoveu a quarta Reunião Ampliada do Comité Central, com vista à consolidação ideológica do partido e definindo uma campanha de recrutamento de novos militantes. Em S. Pedro do Estoril também funcionou, no ano de 1945, uma tipografia clandestina do PCP, onde era impresso o jornal “Avante!”, cuja publicação custou a liberdade e a vida a muitos militantes.

Ainda na mesma localidade, encontra o local onde, durante muitos anos, esteve edificada a Casa de S. Pedro, já demolida. Foi ali que se realizou a 24 de novembro de 1973, uma reunião clandestina em que participaram cerca de 45 oficiais, abrindo uma fase marcadamente política do Movimento dos Capitães.

Na Avenida Marginal, na Parede, encontra-se a Casa da Pedra, “construída em 1903 por Mário de Azevedo Gomes, crítico do Estado Novo, que integrou a Aliança Republicana e Socialista, fundada em 1931 contra a ditadura imposta pela revolução de 28 de maio de 1926”, revela a autarquia.

Pode ficar a conhecer melhor todos estes locais, assim como as moradas dos mesmos, através deste documento da Câmara Municipal de Cascais, que poderá descarregar ou imprimir para ler todas as informações junto a cada um dos locais destacados.

O percurso pode ser realizado de forma pessoal, ou através de visitas guiadas que vão sendo organizadas pelo município. A próxima acontece já este domingo, 28 de abril, entre as 10 e as 13 horas, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril.

A Rota da Resistência e Liberdade será guiada pela historiadora Helena Gonçalves Pinto, com o objetivo de se evocar a memória e a coragem vivido por quem lutou pela democracia no nosso País. O ponto de encontro será na Av. da República, em frente à Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, um pouco antes das 10 horas. 

A visita destina-se a maiores de dez anos. Pode inscrever-se através deste formulário online. Para mais informações pode contactar o número 917 260 052.

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