Desde que a Câmara Municipal de Cascais deu autorização, há cerca de três semanas, para avançar com a construção de uma mega-urbanização no terreno conhecido como Quinta dos Ingleses, em Carcavelos, que os protestos não têm parado. Mais de mil pessoas juntaram-se este domingo, 7 de abril, para uma manifestação no local, contra o avanço da construção de um projeto habitacional que irá destruir o espaço verde de 54 hectares.
O projeto urbanístico da empresa de construção Alves Ribeiro e a Associação do Colégio St. Julian’s prevê a edificação de 850 apartamentos que chegam a ter sete andares acima do solo e cinco em cave, bem como um hotel com apartamentos turísticos e um centro comercial com área de escritórios.
A operação de loteamento prevê que mais de metade dos 51 hectares da área — considerada o último pulmão da orla costeira de Cascais — passe a ser artificializada, com apenas oito hectares para a criação de um parque verde urbano. O megaprojeto de urbanização junto ao mar tem sido contestado por várias associações ambientalistas e sociais do concelho, nomeadamente pelos movimentos SOS Quinta dos Ingleses e Alvorada da Floresta, que estão “na luta contra a destruição da Quinta dos Ingleses e da orla costeira de Carcavelos”.
A associação adiantou, inclusive, que se prepara para interpor uma providência cautelar contra o projeto e “apelar às instâncias da União Europeia se o promotor avançar com cortes de árvores e o início de obras”, avançou ao “Expresso” o vice-presidente da associação, Pedro Jordão.
“O que está projetado para este território é megalómano, agrava o risco de inundação com a dimensão da impermeabilização prevista junto a uma ribeira e acentua a erosão da praia de Carcavelos”, sublinha. Os cidadãos contestam a “destruição desta área rica em biodiversidade”, a última área verde na frente de mar do concelho de Cascais, que “atenua ondas de calor e ajuda a ter melhor qualidade do ar”.
A construção da urbanização na Quinta dos Ingleses tem vindo a arrastar-se desde os anos 60, mas os projetos têm vindo a ser discutidos e adiados. O terreno foi vendido à empresa Savelos, em 1972, e aprovado pela autarquia em 1982, mas não chegou a avançar devido ao chumbo da Assembleia Municipal de Cascais, por parte de todos os partidos com assento, em 2001.
Em 2014, contudo, a assembleia aprovou o Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS), que permite a construção no terreno da Quinta dos Ingleses, que fica junto à marginal e corresponde a uma área de 54 hectares. Em 2021, o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, disse que o município não tem capacidade para travar o projeto, uma vez que isso implicaria uma “indemnização incomportável”, já que os promotores “têm direito adquirido sobre aqueles terrenos”.