Passear à beira-mar, beber um café numa esplanada, comer um gelado na Santini ou acabar o dia numa sessão de cinema, são alguns dos programas que mais deleitam os cascalenses nos períodos de descanso. Longe vai o tempo em que a comunidade achava que só na capital havia diversão garantida e programas culturais de interesse.
Garantimos que, em Cascais, há muitas atividades para desfrutar dos momentos de lazer, ao fim de semana, seja sozinho ou acompanhado. Da vasta lista de sugestões, que partilhamos diariamente com os leitores, acrescentamos agora mais uma: fazer um passeio pelos lugares que a realeza frequentava.
Se é adepto de caminhadas ao ar livre mas, também, apaixonado por História, pode juntar estes dois gostos na atividade proposta. O objetivo é seguir uma rota que passa por locais emblemáticos, em Cascais, frequentados pela família real no final do século XIX e início do século XX. O percurso tem cerca de três quilómetros, com a duração de uma hora e meia.
Foi na segunda metade do século XIX que Cascais se tornou numa das zonas favoritas da família real. Tudo começou com o rei D. Luís e a rainha D. Maria Pia que, a partir de 1870 começaram a sair da residência habitual, no Palácio da Ajuda, para se instalarem, sazonalmente, no Paço Real, antiga residência do governador da Cidadela. Estas temporadas tinham como objetivo gozar de banhos de mar. O casal desempenhou um papel fundamental na transformação da vila como um refúgio de lazer, acabando por influenciar a corte e as elites lisboetas a seguir os mesmos passos.
A rotina da família real passa por idas à Praia da Ribeira, pela manhã, enquanto os príncipes D. Carlos e D. Afonso, ainda crianças, se banhavam na Boca do Asno, atual Praia da Rainha. O dia era depois ocupado com passeios até ao Estoril, ao Pinhal da Guia ou ao Guincho, onde, por vezes, se organizavam piqueniques e atividades como a pesca, a vela, o remo, a equitação, a caça ou o tiro aos pombos.
A inauguração do caminho ferroviário entre Cascais e Pedrouços, em 1889, depois estendido até Alcântara-Mar e, já em 1895, ao Cais do Sodré, acelerou o crescimento da vila e a procura, cada vez maior, como destino de veraneio. Cresceram os projetos imobiliários por todo o litoral, e assim nasceu a Riviera portuguesa.
Mesmo depois da morte de D. Luís, em 1889, o interesse pela vila não diminuiu. Na verdade, a localização privilegiada junto ao mar, fez com crescesse o fascínio de D. Carlos pelo oceano. Além de usufruir do local para desenvolver as aptidões desportivas e interesses artísticos, também foi em Cascais que o monarca decidiu sediar as suas campanhas oceanográficas, entre 1896 e 1907.
Além disso, foram muitos os outros espaços de Cascais frequentados pela realeza no final do século XIX e início do século XX, desde o Passeio Visconde de Nossa Senhora da Luz, onde o contacto com a natureza era primordial, o Teatro Gil Vicente, a Sociedade Filarmónica Cascalense, entre outros.
Conheça os nove locais sugeridos para completar a rota.
Casa D. Maria Pia, Monte Estoril
Construída na última década do século XIX, esta casa é ainda hoje uma imagem de marca na costa do Monte Estoril. Foi adquirida pela rainha D. Maria Pia em 1893, quatro anos depois do falecimento do marido, o rei D. Luís, na Cidadela de Cascais, e da ascensão do filho, o rei D. Carlos ao trono.
O objetivo era habitá-la durante o período do ano dedicado aos banhos de mar. No entanto, o conforto e a localização privilegiada tornaram-na também muito utilizada durante grandes períodos no inverno, assumindo, então, a designação de Paço do Estoril, que se manteria até à implantação da República, em 1910. Encontra-a na Rua D. António Guedes de Herédia, número 3B, no Monte Estoril.
Praia da Rainha, Cascais
A enseada que abriga a Praia da Rainha, na Baía de Cascais, era conhecida na época por Boca do Asno. Devido à sua localização, protegida do vento e das ondulações mais fortes, esta praia tornou-se na favorita da rainha D. Maria Pia, que a elegeu para os banhos de mar dos príncipes D. Carlos e D. Afonso, ainda na infância. Seria também nesta praia que a rainha D. Amélia, mulher de D. Carlos, salvaria, em 1900, um pescador que se encontrava prestes a afogar-se.
Praia da Ribeira, Cascais
A presença sazonal da família real em Cascais em função dos banhos de mar, transformou a paisagem da vila, obrigando os pescadores a cederem parte da Praia da Ribeira (assim chamada por aí desaguar a Ribeira das Vinhas) aos banhistas. Foi a partir deste areal, hoje conhecido por Praia dos Pescadores, que D. Carlos impulsionou a prática da vela, do remo e da natação, transformando Cascais no mais prestigiado campo de regatas em Portugal.
Avenida D. Carlos I, Cascais
A presença cada vez mais frequente (e prolongada) da família real no Palácio da Cidadela, a partir de 1870, acentuou a necessidade de construção de uma nova via de acesso à Praia da Ribeira. A Avenida D. Carlos I, inaugurada em 1899, em homenagem ao rei (que ajudou a pagá-la, segundo se diz) transformou-se numa das principais artérias da vila, servindo também de montra a diferentes exemplos da arquitetura de veraneio, ao longo da mesma.
Passeio Maria Pia, Cascais
Este passeio, adjacente à Cidadela de Cascais, era local de passagem obrigatória da elite instalada na vila para a prática dos banhos de mar. Por isso, razão foi intitulado, em 1890, como Passeio Maria Pia, em homenagem à rainha.
Marégrafo, Cascais
Situado no Passeio Maria Pia, o marégrafo, que estava ligado ao laboratório oceanográfico de D. Carlos, foi instalado em 1882. Oito anos depois viria a deslocar-se cerca de 30 metros para o lado, a sua atual localização. A sua função era medir o nível médio das águas do mar. O sistema de medição, composto por uma boia num poço, ligada a um relógio de alta precisão e a um cilindro horizontal que permite o registo gráfico das oscilações da boia, ainda funciona e pode visitá-la.
Palácio da Cidadela, Cascais
Situada na Avenida D, Carlos, a Cidadela é uma fortificação que, ao longo de mais de 500 anos, foi sendo construída e readaptada. Tem por base a Torre de Cascais, mandada construir em 1488 pelo rei D. João II. A porta de armas era o único acesso ao interior, que se organizava a partir de um pátio central, em torno do qual se dispunham quatro espaços diferentes. Um deles, o de Santa Catarina junto às antigas casas do Governador, foi onde a partir de 1870 os reis D. Luís e D. Maria Pia instalaram o Paço Real de Cascais, a sua morada oficial na vila.
Teatro Gil Vicente, Cascais
Inaugurada em 1869, com 500 lugares, esta sala de espetáculos desempenhou um papel essencial no quotidiano das elites instaladas em Cascais. Ali assistiam a peças de teatro, concertos e outros espetáculos, até com artistas vindos de Lisboa. Tornou-se num dos palcos de convívio da alta sociedade cascalense, nas temporadas que esta passava “a banhos” em Cascais. Encontra-o no Largo Manuel Rodrigues Lima, números 7-13.
Sporting Club de Cascais
Foi neste espaço, que antes era ocupado pela instrução militar das tropas que se alojavam na Cidadela de Cascais, que se instalou, em 1879, o Sporting Club de Cascais. Era nesta sociedade desportiva e recreativa que se reuniam os mais prestigiados banhistas. O clube tornou-se no centro da vida social da vila, no final do século XIX, organizando bailes e, depois, introduzindo diversas modalidades desportivas, como o ténis, que o Rei D. Carlos muito apreciava, ou o futebol, no ano de 1888. Encontra o espaço na Rua Júlio Pereira de Mello.